sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Lado Bom de Bush.


A propósito de W, que retrata o lado menos alienado do ainda Presidente norte-americano, surgiu um também muito oportuno artigo no último número edição portuguesa da Foreign Policy, que faz uma espécie de apanhado do que foram as principais conquistas e feitos da Administração Bush em matéria de política externa.
E não foi tudo mau. Pelo contrário, Bush incrementou as relações com a China e desenvolveu-as como nunca. Fez o mesmo com outras potências asiáticas como a Índia e o Japão, prosseguindo uma política de selective engagement própria da direita americana, que opta por ser menos abrangente nas alianças e afigura-se mais voltada para zonas estratégicas consideradas vitais para os interesses da América. Mesmo na relação com os aliados da NATO, é errado pensar-se que foi Bush quem contribuiu decisivamente para a deterioração das relações no seio dos membros da Aliança. Estas cisões advêm já da altura em que a NATO se viu envolvida em operações nos Balcãs, durante os anos 90.
Em termos de segurança interna, não é fora do contexto afirmar que os EUA estão mais seguros agora do que durante outras Administrações. E, não sendo seguro que o ódio aos Estados Unidos tenha aumentado em países potencialmente patrocinadores do terrorismo ou mesmo em países considerados aliados quando comparado com níveis anteriores, é crível dizer que a probabilidade de o seu território continental sofrer um atentado não é maior do que durante, por exemplo, a era Clinton. Até porque não foi durante os anos de Bush que foram planeados os ataques às Torres Gémeas e ao Pentágono a 11 de Setembro de 2001. Esta probabilidade exclui, obviamente, as forças militares estacionadas no estrangeiro.
Isto não faz varrer para debaixo do tapete os erros crassos de Bush, nem faz olvidar a penúria que foi o último mandato, quando esses mesmos erros eram já impossíveis de encobrir ou de justificar perante a comunidade de países livres. A intervenção no Iraque foi o caso mais flagrante de uma política fracassada no global, mas com pontos positivos pelo meio – basta pesquisar sem preconceitos e com olhos de ver.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

W.



Mais não seja, o novo filme de Oliver Stone vale pelo sentido de oportunidade. Podia até nem ser um grande filme, podia até ficar muito abaixo das expectativas, podia até ser arrasado pela crítica, mas este W. não pode ser acusado de ser inoportuno. E só por isso, a “humanização” de George W. Bush vale as duas horas.
Stone é maquiavélico. Não no sentido a que a palavra nos habituou, mas porque contra a vontade de muitos, não enxovalha Bush Jr., conferindo-lhe um retrato muito pouco político e muito mais biográfico. O que é perfeitamente compreensível: afinal, para quê calcar mais a figura de alguém que é calcado todos os dias? Bush Jr. será um homem livre daqui a um par de meses, e pouca gente percebeu quem é que realmente se esconde por detrás da máscara de Presidente dos EUA.
Bush Jr. é um tipo normal. Teve um pai importante, rico, influente, como alguns têm a sorte de ter. Foi um «rebel without a cause» durante os loucos anos da universidade. Gostava de beber uns copos, de dançar, de ser livre. É daquelas pessoas que toda a gente se imagina a rir alarvemente diante de várias cervejas.
Bush Jr. sofreu agruras em empregos por onde passou. Foi injustiçado em alguns aspectos da sua vida, especialmente no aspecto familiar, irremediavelmente tapado pelo irmão Jeb, preferido do pai. Teve de provar-se a ele mesmo que era capaz, e mais importante, de provar a outros que era capaz. E foi. Bush Jr. era mau em tudo por onde passou, mas não era mau na política – nela apostou tudo, contra a desconfiança do pai e da mãe, e ganhou. Ganhou algo aos 40 anos, depois de uma vida de completo fiasco é verdade – mas ganhou. Poucos acham que ele não teve de lutar por nada. Puro engano: não foi fácil descolar-se da imagem de “protegido”, e pior ainda de se distanciar da imagem do pai para conquistar algo por ser quem é, e não por ser filho de quem é. Bush Jr. é Bush Jr., não é Bush Sr.
E o homem tido por burro não é burro nenhum. É antes um bonacheirão, produto do meio rural americano, o qual cativou pela simplicidade, por meia dúzia de ideias-chave, e por uma perseverança e simplicidade de trato que a maioria dos americanos lhe reconheceu. Junte-se a isto o facto de Clinton ter caído em desgraça nos últimos tempos do mandato, e temos Presidente.
Bush Jr. foi capaz de sacudir obstáculos e acusações, e conseguiu ter sucesso sabendo pouco. Mas sabia pouco porque achou que não precisava de saber muito para chegar onde queria chegar.
Get ready to know the man.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A Louca Paródia a McCain/Palin.

Bem ao estilo americano, depois de Os Simpsons parodiarem a candidatura de John McCain, é a vez do muito liberal Seth McFarlane, criador da série de culto Family Guy, meter a mãozinha na campanha eleitoral. E, muito mais radical do que a série de Matt Groening, não fez por menos. McFarlane faz a série recuar até à Alemanha nazi para colocar em Stewie - o personagem mais hilariante da série - um pin da dupla McCain/Palin, quando este veste um uniforme nazi.
Muito se pode discernir sobre o pretenso mau gosto de McFarlane. Estas coisas têm o seu espaço e têm uma influência praticamente nula na votação: quem vota democrata ri-se, quem vota republicano pode ficar chateado mas encolhe os ombros. Há até aquele punhado de pessoas que fica tão chateado que passa a votar McCain só pelo mau gosto da coisa. Claro que casos como este têm mais tendência a serem desculpadas aos meios liberais do que aos meios conservadores, mas que tem piada lá isso - diabos me levem - tem.
E uma coisa é certa: esta é apenas uma das muitas provas de que a América e a sua democracia estão vacinadas e sabem como lidar com o que vem do outro lado. A sociedade de lá sabe que o humor, mesmo aquele que faz ferver alguns, faz parte da festa.


Paul Thomas Anderson: O Próximo Coppola?

Magnolia (1999) é o filme do sofrimento. São mais de três horas em que os olhos não despegam do ecrã, arregalados com tamanha sumptuosidade. O filme está impregnado com cenas de rara beleza, daquelas que tocam até o mais rabugento dos corações. Magnolia é um objecto cinematográfico que faz a alma desesperar-se aos poucos, perante histórias aparentemente banais, mas lá no fundo densamente complexas. A mestria é de Paul Thomas Anderson, uma das mentes mais geniais de Hollywood. Impressionante é deslindar como Anderson permeia e interliga os anseios, as frustrações e os devaneios de não poucas personagens, captando a quente as suas emoções e transpondo-as para o olhar do espectador na sua dimensão mais impiedosa e mais cruel.
A câmara de Thomas Anderson é crucial neste emaranhado de situações psicologicamente dramáticas. A precisão dos seus movimentos aliada à maneira como foca, por exemplo, o rosto dos personagens numa sincronia perfeita com o meio envolvente é, pode dizer-se, um dos mais significativos traços do cineasta californiano. E talvez a melhor cena para o demonstrar seja esta onde as personagens são focadas no seu espaço físico e psicológico mais íntimo, sem constrangimentos nem superficialidades - onde o papel da música (Wise Up de Aimee Mann) é particarmente importante. É um momento de rara beleza que perdurará certamente na memória de qualquer um. Esta cena tem de vir nos manuais de cinema.
Refira-se também, em Magnolia, a introdução da temática das probabilidades e do acaso e na forma como esta entra de rompante na vida de cada um, perante as suas mesclas de pequenez e impotência. E a forma como capta a solidão inata e irremediável de cada um deles é simplesmente única. Pois no final é disso mesmo que se trata: mesmo nas sociedades mais ricas e evoluídas, todos sofremos sozinhos, à nossa maneira sim. Mas sozinhos.


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

E Se Fosse Huckabee? (Obrigatório Ver o Vídeo).

Ora bom, muita gente não gosta de John McCain. Muito bem, estão no seu direito, os republicanos tiveram ao longo dos últimos anos a pior liderança da história, com o homem que foi também o pior Presidente de que há memória. Mas McCain é um autêntico menino do coro comparado com o ex-candidato à nomeação republicana, Mike Huckabee. O antigo governador do Arkansas é fã de...Chuck Norris e, para ele, o actor é a solução para os problemas de segurança dos EUA e fundamental para a protecção do direito à posse de armas, contemplado pela famosa e controversa 2ª emenda da Constituição. O vídeo aqui exposto é de visionamento obrigatório, para que com uma boa gargalhada (ou várias), nos apercebamos daquilo que de pior a América é capaz de produzir politicamente. Com Huckabee, em vez de dois países invadidos em oito anos, teríamos uma média de dois por mês...
I'm Chuck Norris and I approve this message. Bendito McCain.


quinta-feira, 16 de outubro de 2008

McCain vs. Obama - Round 3.

E, por fim, o último. Já não há mais debates até 4 de Novembro próximo, dia em que pouco menos de 290 milhões de norte-americanos serão chamados às urnas para, entre muitas outras coisas, escolherem o seu dirigente máximo até 2012. Para o terceiro apronto entre os dois candidatos, Barack Obama continuava bem à frente nas sondagens em relação a John McCain. Se bem que com números divergentes, é possível afirmar com relativa certeza que Obama estava – e continua a estar – numa posição privilegiada na corrida à Sala Oval. Contudo, não é de menosprezar o facto de que McCain dispõe ainda de um número suficiente de indecisos para dar a volta à eleição, cerca de 8% segundo a última sondagem CNN. E mesmo não sendo crível que todos os indecisos acabem convencidos pelas ideias do senador republicado, não é menos verdade que algumas sondagens podem estar a pecar por excesso em relação à alegada vantagem de Obama: o New York Times atribui 14% de vantagem ao democrata, ao passo que a Gallup atribui apenas 3%. Números confusos e dispersos que não permitem conclusões sólidas. De qualquer modo, e jogando à defesa nas afirmações, Obama lidera, e à partida para o derradeiro frente-a-frente, tinha mais do que condições para manter ou até aumentar a vantagem face a John McCain. É importante ainda veicular que Obama parece, até agora, ter de alguma forma superado com sucesso a questão racial, em especial a natural antipatia que muitos hispânicos e alguns sectores brancos nutrem pelos negros nos EUA. Obama não é visto como um negro típico, muito menos como um segundo Jesse Jackson ou um Martin Luther King Jr. E isto tem sido fulcral para Obama ter chegado onde chegou.
Já o republicano não conseguiu nunca, em nenhum momento da campanha, afastar-se o suficiente de George W. Bush. Havia feito até aqui uma campanha sem novidades de maior, cujo maior golpe mediático (chocante para alguns até) foi a escolha de Sarah Palin para vice. Escolha que não correu da melhor maneira a McCain, que após um período inicial de aprovação, cedo viu a sua “running-mate” revelar a sua verdadeira face, a qual, como é amplamente sabido, não agradou a quase ninguém. Ainda para mais tendo em conta que é no mínimo plausível pensar que as hipóteses de chegada à presidência do nº 2 de McCain, fosse ele (ela) qual fosse, são consideráveis. Portanto, tornava-se imperativo para o senador do Arizona puxar dos galões neste último debate e passar a ataque.
E foi isso mesmo que aconteceu. No palco da Universidade de Hofstra, em Hempstead, Nova Iorque, McCain começou e acabou o debate com uma chuva de críticas ao democrata, naquele que foi sem dúvida o mais intenso e vivido dos três debates a que tivemos oportunidade de assistir. Houve fases em que esteve melhor do que Obama, mais convincente, sabendo ser forte nas críticas sem ser paternalista, e sabendo ser duro sem ser ofensivo – dois erros crassos que McCain poderia ter cometido mas que não cometeu. Entrou de rompante, procurando colar a imagem de Obama ao aumento de impostos, ao passo que apregoava enfaticamente uma política económica centrada em descidas fiscais. Prometeu poupança acima de tudo, e fez tudo para se distanciar de Bush, estando particularmente bem quando interceptou Obama dizendo: “I am not President Bush. If you wanted to run against him you should have done it four years ago.”
Na área económica, Obama esteve ao seu estilo habitual. Sem arriscar – assim ditavam as sondagens – limitou-se a responder aos ataques de McCain, o mais calmamente possível, consolidando no eleitorado a sua a imagem de solidez e confiança. E creio que o conseguiu. Insistiu no redefinir de prioridades, defendendo a eliminação dos programas estatais que não funcionam em favor dos que funcionam e prometendo reduzir a carga fiscal a 95% das famílias. Nada de muito novo, portanto. No tema da campanha, o democrata tremeu um pouco face às investidas do republicano, que o acusou sucessivamente de interesses em certos sectores e de uma campanha obscura. Mas no final acabou por sair-se bem, ao colocar preto no branco as pessoas que o acompanharão à Casa Branca em caso de eleição.
Na pergunta sobre os respectivos “vices” (aqui em vídeo), Obama levou inequivocamente a melhor. McCain não soube atenuar a imagem de Palin, e não fez sobressair suficientemente bem as suas virtudes; ao passo que Obama elogiou Joe Biden eficazmente, tocando nos pontos essenciais da sua personalidade, ou seja, na sua especialidade, que é a política externa.



O debate prosseguiu com a discussão sobre energia e alterações climáticas, altura em que é difícil dizer quem esteve melhor. McCain saiu-se bem, provando não ter esquecido o tema, sendo peremptório na aposta no nuclear. Já Obama optou por um discurso cuidado mas revelador, focalizando-o na importância da energia limpa, a qual afirmou ser o motor da economia americana para o próximo século. E disse acreditar ser possível reduzir a factura petrolífera em dez/quinze anos anos - uma previsão mais realista do que a do republicano. Este é um dos pontos que jogam bastante a favor do democrata, e que o distingue bem de McCain. De resto, soube, na noite de ontem, defender-se a grande nível dos ataques do adversário, aos quais respondeu separadamente e com enorme à vontade – especialmente neste tema. McCain, por seu lado, já pouco tinha por onde pegar, voltando a dirigir-se em tom pessoal a uma pessoa em concreto durante o tema da saúde. Mas mais uma vez, Obama teve uma resposta à altura do republicano, ao declarar que os cuidados de saúde nos EUA devem começar por ser, antes de mais, preventivos.
O debate chegou ao fim com mais investidas de McCain, as quais em parte deram resultado. Obama teve um período menos bom, durante o qual não teve arte nem engenho suficientes para não deixar McCain ficar por cima. De qualquer forma, o candidato democrata equilibrou a contenda na parte intermediária, para não mais a deixar escapar. Resumindo, McCain esteve melhor do que no primeiro debate e muito melhor do que no segundo, mas Obama primou pela regularidade e rectidão no discurso, algo imensamente apreciado por todo o eleitorado. Por isso, e no conjunto dos debates, Obama levou a melhor por 2-1 – ainda por cima nos dois últimos, os que mais ficam gravados na memória.
Barack Obama, actual senador pelo estado do Illianois, 47 anos, é a minha aposta para próximo presidente dos Estados Unidos da América, numa eleição onde não só se decide o futuro do país, mas o futuro modelo sobre o qual assentará todo o sistema de relações internacionais para os próximos quatro (oito?) anos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

"Prova d'Orchestra" de Federico Fellini.


Fellini é um realizador surpreendente. Aparte o seu incontestável génio, do qual já é perda de tempo discernir longamente, o mestre italiano não quis legar a sua obra sem uma referência directa ao tema da música. Muito diferentemente dos seus outros filmes, Fellini opta em Prova d’Orchestra (1978) por uma abordagem mais descomprimida – note-se por exemplo que apenas o maestro é actor profissional, sendo que os restantes são meros actores de ocasião. No entanto, nada disto retira génio ao filme, pelo contrário, apenas o realça.
Fellini traça magistralmente o retrato da relação amor-ódio (mais ódio do que amor) de uma banda para com o seu maestro. A acção ocorre num reduzido espaço, não superior a uma capela transformada em auditório, devido a uma alegada excelente acústica. O espaço revela-se um elemento primordial, porquanto permite articular finamente com a câmara a interacção estreita existente entre os risíveis personagens, fazendo sobre eles abater o seu insondável espectro. Mesmo em tão pouco tempo de filme, parece haver uma definição quase perfeita do carácter irrepetível de cada um dos elementos que compõem a banda, os mesmos que a lançam numa anárquica e contestatária avalanche de emoções e gestos irracionais. A emotividade acelerada da banda lança dúvidas sobre a exequibilidade da empreitada musical, e ainda mais da hierarquia e do respeito pelos quais por convenção se pautam este tipo de colectivos. A lição de Fellini surge então sob a forma de acalmia, depois da inesperada derrocada de uma das paredes da igreja, durante a qual a harpista sai ferida. Todos se apercebem da necessidade da ordem e da harmonia, que apenas podem ser trazidas pela direcção de um maestro competente e sério. O final é soberbo, com toda a orquestra a tocar sublimemente dentro de um conspurcado cenário de uma igreja parcialmente destruída. O binómio ordem/desordem numa melódica realização de Fellini.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Estendam a Passadeira e Protejam-se.



Cuidadinho. Mas muito cuidadinho mesmo. Eles não morreram. Eles andam aí e vêm dispostos a pôr a modéstia de lado. Os manos mais perigosos da Velha Albion voltaram às arrasadoras lides “rockeiras”, culminando um período no qual muita tinta correu sobre o seu anunciado e aguardado regresso. Como estará o som dos Oasis? Estará pouco reconhecível? Os Oasis deixaram de ser…Oasis? Voltarão aos tempos de Rock n’Roll Star? Não, nada disso.
Noel e Liam estão simplesmente a marimbar-se para rótulos. A música que lhes sai daqueles instrumentos é a que eles quiserem que saia, sem artifícios nem «corantes». À boa maneira Gallagher, quem quiser que ouça, quem não quiser não ouça. Quem achar que eles estão a fugir aos pergaminhos que vá dar uma volta ao bilhar grande, para não dizer pior.
Dig Out Your Soul sucede a um muito «morninho» Don’t Believe The Truth, e tendo em conta o que iam dizendo os manos, o que estaria para vir seria diferente. Diziam que não haveria hits, que não se admirariam se nenhuma das novas canções passasse na rádio. E de facto assim é (com a excepção da fabulosa The Shock of the Lightning). Mas não se apoquentem os mais cépticos. Dig Out Your Soul é um disco robusto, construído sobre sólidos alicerces. As quatro primeiras faixas são de fazer tremer as más-línguas, e colocarão um sorriso na cara aos mais desprevenidos. O álbum abre com Bag It Up, uma sumptuosa batida rock e segue com Turning, na minha opinião das melhores do disco. Elegante, belissimamente escrita ao melhor estilo dos Gallagher. Em Wainting for the Rapture já estamos a esfregar as mãos à espera de The Shock of the Lightning, mas apuramos e ouvido e deparamo-nos com uma enérgica guitarrada cheia de saborosas oscilações. Quanto ao “single”, é do melhor. Mais um hino que parece saído dos anos 90. Oasis clássico. Acreditem: só esta faz encher a barriga.
Depois do fartote, Dig Out… acalma. Só em Ain’t Got Nothin volta a haver barulho. Até lá, I’m Outta Time, (Get Off Your) Horse Lady e Falling Down são agradáveis «intrusos» cheios de pintarola. A primeira é um calmante para a alma que pede um fechar de olhos; a segunda pede um bater de pé para acompanhar o abrasivo ritmo imposto pela batida – tal como, diga-se, To Be Where There’s Life; já a terceira sobe de tom e é dominada por um som retorcido e misterioso – mais um exemplar de uma das veias criativas dos manos.
Para fechar em beleza, The Nature of Reality é uma marcha triunfal a rasgar tudo. Mais um dos momentos altos do álbum. Para fechar, um momento mais “cool”, talvez uma das facetas mais bem conseguias de Dig Out Your Soul. Soldier On é daquelas com que nos identificamos imediatamente e das que dá vontade de cantarolar baixinho.
E pronto. Eis Dig Out Your Soul, o melhor registo dos Oasis desde Morning Glory. Sentem-se melhorias em relação a Heathen Chemistry e a Don’t Believe the Truth. Neste está lá tudo. Tudo o que os Oasis podem fazer. Não estão descaracterizados, estão apenas uma década mais velhos. Mas desta vez deram um murro na mesa. Sejam bem regressados!
E agora com vossa licença, mas há uma certa The Shock of the Lightning para ouvir.



Oasis aqui na capa da Uncut de Stembro, o que atesta bem a atanção que imprensa da especialidade dedicou ao seu regresso. Menos não seria de esperar. Respeitinho é muito bonito.

O Regresso dos Príncipes do Rock.


A crítica segue dentro de momentos...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

EndEUSada Canção.

Esta música é obrigatória. A banda de Tom Barman atinge um patamar quase divino com esta melodia e faz bom jus ao nome dEUS. Os belgas excederam-se nesta belíssima composição musical, uma belíssima amostra da melhor face do rock alternativo/indie chamem-lhe o que quiserem. O refrão é qualquer coisa de mágico, ao nível dos melhores. Redescobrir Sister Dew, do álbum The Ideal Crash vale bem a pena. E não, a música não tem meio ano, tem quase uma década. Garante-se qualidade a quem se der ao trabalho de abrir o vídeo abaixo:


Partido Socialista No Seu Melhor.

O casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma questão menor. Não é uma questão prioritária, muito menos fulcral para o regular funcionamento da sociedade portuguesa ou de qualquer outra. Deve ser discutida sim, mas tendo em conta que há muitas outras coisas bem mais importantes e bem mais urgentes.
Mas já que a discussão passou para o nosso querido plenário, não posso deixar de notar um ou outro aspecto muito típico do muito nosso seguidismo partidário - os quais parecem, não sei porquê, colarem-se irremediavelmente à imagem do nosso também querido Partido Socialista. O mui volátil PS mostra nesta votação quem verdadeiramente é. Ou não é. Ou diz que é mas afinal só é em parte. Ou afinal parece que alguns são e outros são mais ou menos e afinal só uma pequena parte é que não é. Ou afinal de contas são todos e não querem dizê-lo com excepção de um ou outro. Ou então não é nada disto e são realmente todos a favor só que não querem votar agora mas talvez votem depois. Ou...ou...ou...
Calma.
Já nem sei o que estou a dizer. Respiro fundo e concluo perplexo que é o Partido Socialista que me põe assim. Para o Partido Socialista, deve ser absolutamente normal contrariar a própria consciência e votar contra algo que se defende. Sim porque era o que mais faltava os inchados e empoleirados falcões do PS votarem uma questão fracturante em período pré-pré eleitoral sob risco de perder uns quantos votozinhos! Nem pensar. Antes contrariar os próprios valores do partido e dos ideiais de esquerda que tanto apregoam. Pior: antes desdizerem-se perante a câmara que representa o povo português. Gosto muito deste país, mas pena tenho que este povinho continue insistentemente a votar no partido da rosa (ou do risível punho fechado). Infelizmente, vezes demais penso que temos o que merecemos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

McCain vs. Obama - Round 2.



E à segunda foi de vez. Barack Obama foi um claríssimo vencedor do debate que na madrugada de hoje opôs os candidatos democrata e republicano à chefia do (por enquanto) estado mais poderoso do mundo. O senador do Illianois partia para Nashville com uma pequena vantagem nas sondagens, vantagem todavia magra e possivelmente até enganadora, dado que muitos dos que responderam que preferiam Obama não confirmaram que votariam de facto. Já McCain via-se obrigado a correr atrás do prejuízo, mesmo após a boa performance tida no primeiro embate. Este segundo debate afigurava-se, portanto, fulcral para as aspirações do republicano. Nenhum dos dois se podia dar ao luxo de cometer qualquer gafe, nefastas numa altura em que campanha entra na sua fase decisiva.
O formato deste debate não favoreceu McCain. Ambos os candidatos passaram a maior parte do tempo de pé a responder a perguntas da plateia, e a perguntas colocadas pelo moderador, dentre as cerca de seis milhões que haviam sido enviadas via Internet. McCain fez contrastar o peso da sua idade com a jovialidade do seu adversário, pelo modo como andava com dificuldade no círculo preparado para o efeito. Por outro lado, McCain esteve quase sempre na sombra de Obama na questão económica (onde nenhum dos dois é especialista), e mais ainda na discussão sobre política externa. Num debate em que ambos procuraram reforçar as ideias transmitidas no primeiro debate, Obama soube contornar os ataques de McCain, os quais muitas vezes saíram de tom. Obama conseguiu também sacudir um argumento que McCain usou com frequência, relacionado com o facto de ter mais currículo do que ele. Disse várias vezes McCain: “Look at my record and look at his”.
Na questão económica, questão central no debate em virtude do recente abalo nos mercados financeiros internacionais, a confrontação verbal surgiu um pouco oca de conteúdos, mas teve algumas tiradas interessantes: McCain acusou Obama de ter responsabilidades na falência do Fannie Mae por via da sua acção no Congresso, ao passo que Obama acusou McCain de ir contra vários projectos lei que visavam o investimento em energias limpas, factor que o democrata considera essencial para uma recuperação económica dos EUA. Por outro lado, Obama insistiu e bem na importância de apurar responsabilidades ao mais alto nível por tudo o que tem acontecido nos mercados. McCain reforçava a ideia de credibilidade e de solidez que o próximo Presidente devia ter para enfrentar uma crise sem precedentes. Em suma, discursos vazios, mas dos quais se conclui que Obama esteve acima do seu rival, tanto pela fluidez do discurso como pela maneira como soube colar McCain a uma imagem de imobilismo e de passado. E esteve particularmente bem ao insistir regularmente que todos devem partilhar o fardo (”share the burden”), e não apenas alguns – algo que McCain não fez.
Em termos de prioridades, Obama soube também ser mais assertivo e convincente do que o republicano. Colocou, por esta ordem – e sem contornar a pergunta como fez McCain – a energia, o sistema de saúde e a educação como prioridades para o seu mandato. Defendeu a produção de energias limpas em solo americano, para evitar a sua compra ao estrangeiro; e prometeu fazer girar toda a economia à volta das novas energias limpas. Defendeu a redução de impostos para 95% dos americanos, e um favorável sistema de crédito para que as PME’s possam adquirir seguros de saúde para todos os seus funcionários. McCain foi forçado a ir atrás de Obama neste assunto e não esteve nunca à altura das propostas do democrata. Obama desacreditou McCain na questão dos seguros de saúde, argumentando que a procura de seguros de saúde fora do estado de residência promoveria a desregulação total do sector.
No concernente à política externa e de segurança, não houve grandes avanços nem grandes novidades; apenas o reforço daquilo que ambos haviam defendido no Mississípi. Para McCain a prioridade é o Iraque, para Obama é o Afeganistão. Mas o democrata esteve em grande quando afirmou claramente que os 10 biliões de dólares que os EUA gastam todos os meses no Iraque é dinheiro que o país precisa dentro de portas para pôr as pessoas a trabalhar. E foi capaz também de virar a acusação de McCain sobre o facto de ser mais experiente e mais talhado para a política externa, perguntando como é que alguém tão capaz falhou rotundamente ao apoiar a invasão do Iraque. De resto, não houve grandes novidades, dado que nenhum dos dois tem diferenças de fundo quanto a questões como a Rússia, Irão, ou quanto a intervir em casos de genocídio – em que ambos dão preferência à opção multilateral).
No final, vitória consensual para Obama, muito melhor do que no primeiro debate – contra um McCain que não fez jus à fama de dureza pela qual é conhecido, sendo excessivamente moderado, que foi algo que o descaracterizou aos olhos de quem o conhece e que estava à espera de ver o «verdadeiro» McCain. Será que senador do Arizona vai a tempo de emendar a mão? Não será nada fácil, tendo em conta que este debate consolidou Obama bem à sua frente. Seria preciso uma grande (ou várias) escorregadelas do seu rival para aumentar as suas hipóteses de eleição a um nível mais aceitável. Mas não é menos verdade que por esta altura, e depois de uma desastrosa governação republicana, qualquer candidato democrata já devia levar muita mais vantagem face a qualquer republicano, algo que não acontece. E este é dos poucos pontos que McCain pode ainda explorar. Seja como for, Barack Obama está mais perto da Casa Branca. Dia 15 há mais, em Nova Iorque.

sábado, 4 de outubro de 2008

Uma Grandiosa Notícia.


A Premiere voltou. Mal conseguia acreditar quando soube do regresso da única publicação dedicada exclusivamente ao cinema que este país já teve. Na capa vem Brad Pitt, uma escolha simbólica que faz recordar o "primeiro" nº1. Os meus sinceros parabéns à persistência do José Vieira Mendes, novamente editor-chefe da revista, e à jovem editora que teve a coragem de ressuscitar este valioso projecto. É como ver um morto regressar à vida e ser apanhado pelo choque. Foi um interregno de um ano desde a "descontinuação" da revista em Outubro do ano passado, uma triste decisão por parte da editora francesa Hachette. Uma decisão motivada por irritantes lógicas de mercado, mas provavelmente com uma boa dose de casmurrice à mistura.
Na altura, não consegui disfarçar a minha desilusão, certamente compartilhada por muitos e muitos amantes de cinema por este país fora. Desde aí o mercado de imprensa nacional ficou visivelmente desmembrado de uma publicação que como tantas outras se dedicam a nichos, mas cuja importância não deve ser descurada, em nome de uma salutar divulgação de conteúdos culturais diversificados. É bom que revistas como a Premiere saiam todos os meses para as bancas, já que constituem um contributo essencial para um melhor acesso às mais variadas formas de arte, permitindo consolidar um público já fiel e juntar-lhe ainda gente nova com curiosidade e vontade de saber mais sobre manifestações artísticas tão enriquecedoras como a sétima arte. Para ver se este país fica um pouco menos pimba e saloio.

Valkyrie.



Valkyrie é um filme a aguardar com expectativa. Tom Cruise na pele do Coronel Claus von Stauffenberg, um oficial alemão de alta patente que tentou assassinar Hitler a 20 de Julho de 1944. O golpe tinha tudo para dar certo: por via do cargo que ocupava no exército de reserva, Stauffenberg tinha acesso à presença do Führer e os oficiais, estranhamente, não eram revistados. Stauffenberg sentia-se movido pelo amor à pátria. Mesmo que por um caminho moralmente errado, a Alemanha devia livrar-se do seu maníaco Chanceler e chefe supremo, o qual inevitavelmente levaria Alemanha ao abismo e, estava mais do que provado, à derrota final.
Por várias vezes Hitler havia sido alvo de tentativas de assassinato, mas nunca nenhuma delas ficou tão perto de se consumar. O acto co-planeado e pessoalmente executado por Stauffenberg consubstanciava as inquietações e a racionalidade de uma larga franja das elites política e militar da Alemanha, que via um monstro guiar uma nação e um povo inteiros para um desastre sem precedentes. O acto deste coronel foi um acto heróico, vindo de alguém com uma educação católica romana, com gosto pelas artes, pela filosofia, e de raízes aristocráticas. Stauffenberg, à semelhança de muitos outros silenciosos oficiais alemães, sentira-se atraído pelo nazismo numa primeira fase, mas não pactuava com as incontáveis atrocidades cometidas em nome da superioridade da raça ariana, nem com as decisões militares estrategicamente erradas que vinham sendo tomadas nas várias frentes de batalha. A ideia era pois fazer a paz separada com os Aliados, evitando males maiores e muitas mortes em vão para um país já desgastado para além do limite.
Por má colocação da mala ou pela via da resistência da mesa, o que é certo é que o golpe falhou. Mas o mito de Stauffenberg permanece vivo, bem como o fascinante significado do episódio da História que proporcionou. A não resignação aos poderes instalados e o dever de colocar os interesses do país e do povo acima dos interesses particulares, especialmente quando os destinos destes estão incondicionalmente entregues nas mãos de um louco. O episódio de 20 de Julho de 1944 faz repensar o movimento nazi e alimentar alguma especulação sobre os moldes em que penetrou nas mentes dos alemães, e a verdadeira extensão da sua aceitação dentro dos meios mais letrados da sociedade alemã, porventura não tão profunda como já se supôs. Repleto de “suspense” e drama, Valkyrie tem estreia prevista para 26 de Dezembro.


Aqui fica a muito interessente capa da Total Film de Outubro, que faz precisamente jus à figura de Tom Cruise em Valkyrie.