segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ballad of a Thin Man (1965).

Ballad of a Thin Man faz parte de Highway 61 Revisited, álbum de 1965 e um dos maiores e mais aclamados registos do compositor/letrista norte-americano. Os meados da década de 60 foram anos em que Dylan se passou definitivamente a assumir como porta-estandarte de uma contra-cultura emergente. Transpondo isto para as suas canções, tal redundava em constante alusões a figuras alegóricas e em composições marcadamente ambíguas. O universo de Dylan era uma mescla de múltiplas influências, e nem todas as mutações verificadas na sua música eram pacificamente aceites e compreendidas pelos fãs.
Ballad of a Thin Man é uma referência a essas incompreensões e a uma certa intolerância demonstrada por certos meios da crítica musical da época, simbolizada por um certo "Mr. Jones". Jones seria, muito provavelmente um desses críticos. Aqui fica uma das suas melhores intrepretações ao vivo desta magnífica canção.


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Alta Velocidade.

Não achei muito ortodoxo ver no meio da revista Visão um panfleto da RAVE (empresa tutelada pelo Governo) a tentar justificar a opção pela Alta Velocidade em Portugal. Além de haver muito boa gente que contradiz os argumentos apresentados pelo Governo, a prática não me parece muito ética. Não se tratando de um esclarecimento imparcial. Tal panfleto afigura-se-me como pura publicidade às opções do Governo, e não presta um esclarecimento cabal e aprofundado à questão.
Insiste-se, em Portugal, num modelo de crescimento económico baseado nas grandes obras públicas - uma ideia velha que o tempo tem provado não ser verdadeira.

domingo, 23 de agosto de 2009

Afrontas Vindas de Dentro.

Escrevo estas linhas profundamente revoltado. Revoltado não só com o resultado do Vitória hoje, mas com aquilo que se passou dentro e fora do campo. Hoje, mais uma vez, o Vitória agachou-se perante um clube de Lisboa a quem nada deve. Uma vez mais, o Vitória deu provas de que não cresce e, pior do que isso, de que parece não querer crescer.
A história, triste para todos os adeptos vitorianos, conta-se em poucas linhas: Agosto; tarde amena e soalheira; primeiro jogo do Campeonato em casa; recepção a um clube que traz muitos adeptos; saudades de futebol. Condições reunidas para um bom e agradável espectáculo, com muita expectativa acerca daquilo que o Vitória pode e deve fazer na época desportiva recentemente começada.
Mas lamentavelmente nada disto aconteceu. Fora das quatro linhas, o Vitória cede duas parcelas das bancadas dos adeptos do Vitória a benfiquistas, para espanto e revolta generalizadas. Para piorar a afronta, foram destinadas as mesmas portas de adeptos aos senhores adeptos benfiquistas, como se do estádio deles se tratasse. Foi a maior vergonha que passei desde que sou associado do Vitória - e já lá vão uns bons anos. Não ao dinheiro a todo o custo, não à subserviência. O vexame só tem um e um único culpado. Esta direcção mais do que ninguém devia saber que as bancadas destinadas aos adeptos do Vitória são exactamente isso: bancadas destinadas aos adeptos do Vitória, e não são para serem vendidas a adeptos adversários a troco de mais uns euros extraordinários, sejam eles quais forem e quantos forem. Pessoalmente, não me importa rigorosamente nada se os benfiquistas à procura de um ingresso para o jogo sejam 5000, 50000, ou meio milhão. Existe uma bancada destinada ao clube visitante, e é essa bancada e não outra(s) que deve ser preenchida com adeptos de fora. Se são mais, temos muita pena, mas não entram.
Dentro das quatro linhas, outro espectáculo lamentável. Pobres daqueles que colocam os seus corações de adepto à mercê de Pedros Proenças e afins, que teimam em fazer de toda uma massa associativa meros berloques perante o poder que lhes é concedido para tomar decisões dentro de campo. Os Pedros Proenças e afins já perderam a vergonha toda. A inclinação do campo, nos dias que correm, já nem sequer é disfarçada. Um penalti para lá de duvidoso, faltas e mais faltas inexistentes e mergulhos em catadupa foram uma constante ao longo de todo o jogo, e acabaram por "oferecer" de bandeja uns imerecidos três pontos ao SLB. E por falar em três pontos, o lance do golo do SLB deve ir para o Watts da Eurosport desta semana. Não fosse eu um vitoriano possuidor de sistema nervoso central, e ter-me-ia rido à gargalhada com a tragicómica representação de Coentrão.
Vitória 0 - 1 Benfica (Marcadores: Pedro Proença 90').

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dos Think-Tanks.

O modo como são tomadas as decisões políticas ao mais alto nível na União Europeia conta com pouca influência da produção intelectual e científica dos think-tanks europeus. Esta é muito provavelmente uma das maiores carências que afecta a qualidade das mesmas. Por toda a Europa, aquilo que é proposto ou problematizado por um centro de investigação dedicado à área científica das Relações Internacionais e dos Estudos Europeus é amiúde ignorado ou colocado numa gaveta onde permanece por tempo infinito. Isto, claro, se é que alguma vez chega a ser objecto de atenção por parte das entidades oficiais a quem, em última instância, se deveriam supostamente dirigir.
Vêm estas palavras a propósito de um muito oportuno artigo de James Rogers no Ideas on Europe. Ao contrário dos EUA, país onde os think-tanks gozam de influência junto dos policy-makers, na Europa o seu papel é sistematicamente secundarizado. Quem perde é somente a própria União Europeia, a tal entidade sui generis que acertará tanto mais nas suas políticas estratégicas quanto mais escutar e incorporar nas suas decisões a sabedoria e a experiência dos membros deste tipo de organismos. Ainda assim, existe na União Europeia uma tendência marcadamente positiva a este respeito, o que é louvável e de saudar.
Em Portugal, mais concretamente, o melhor será mesmo nem tecer grandes considerações, uma vez que tal prática é praticamente inexistente. Aqui também, muito caminho para percorrer, e por certo muita mentalidade bafienta para mudar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Александра (2007).


Um dos mais proeminentes cineastas russos da actualidade, Aleksandr Sokurov, apresentou-se em Cannes em 2007 com uma obra no mínimo peculiar, detentora de uma mensagem desdobrável, por via dos sentidos e das interrogações que lhe possam ser atribuídas.
Alexandra Nicolaevna é avó de um oficial russo destacado para a segunda guerra da Chechénia, a quem decide, por ardente necessidade psicológica, visitar. A realidade que lhe aparece diante dos olhos é tudo menos agradável. É um mundo de homens e de miúdos a quem a vida pouco diz, uma espécie de I Vitteloni à maneira russa, com fardas militares. O dia-a-dia é vazio, os olhares são penetrantes, inquisidores, tristes. Alexandra parece não compreender a vida daqueles a quem a pátria apontou o caminho para uma confrangedora solidão nos confins de uma terra onde não são bem-vindos. A espaços, sente-se este desdém hostil entre locais e russos, uma desconfiança mútua, um medo que não cessa de pairar; para além de uma gritante carência de afectividade - essa trágica recordação antiga.
Alexandra é um filme enigmático e artisticamente ambíguo, passível de múltiplas leituras, mas é certamente tudo menos um chavão para a compreensão da душа (alma) russa. Funciona, pelo contrário, como uma pista para os insondáveis desígnios de um país ainda à procura do que pretende e da sua própria identidade.

sábado, 15 de agosto de 2009

Crime e Castigo.


Está finalmente lido. Tarefa cumprida. Propus-me, já há uns tempos (há demasiado talvez) a ler de fio a pavio Crime e Castigo. É preciso respeitar os clássicos, mesmo que a sonolência se torne numa inevitável constante ameaça à missão a nos propusemos: acabar o livro, dê por onde der.
Crime e Castigo é, obviamente, um clássico incontornável da literatura mundial. A história é grandiosa, repleta de episódios simbólicos e de mensagens morais. O drama de Ródion Romanóvich Raskolnikov é um drama psicológico profundo, e aparece como pano de fundo a todo o livro. Poderá um acto vil ser perdoado em prol de algo maior? A justiça deve ser sempre aplicada, mesmo tendo em conta circunstâncias muito especiais? O drama interior de Raskolnikov é tortuoso e chega, em alguns dos seus sonhos e devaneios, a ser aflitivo para o leitor.
Dostóievski tem aqui uma das suas maiores criações da sua fase matura enquanto escritor, e uma das mais emblemáticas. Crime e Castigo, não tendo um enredo rico, explora o interior de um personagem fascinante, na pessoa de um ex-estudante com problemas financeiros, inteligente, culto, prestável, mas com uma hierarquia de valores pouco convencional. Daí o acto de cometer um duplo assassinato em prol de um bem que considerava maior, e daí também o frenesim psicológico que o atormenta e que culmina numa abnegação total e defintiva no regaço de Sónia, a única mulher que amou e a sua salvação.
Está lido. E saboreado. Livros destes fazem-nos bem.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Transformer (1972).


Transformer, o segundo álbum a solo de Lou Reed, produzido por David Bowie e Mick Ronson, atribui outra profundidade ao glam rock, que à data atingia o seu auge. Já depois dos Velvet Underground e do famoso "álbum da banana" de Warhol, Reed tem aqui das maiores marcas da sua carreira.
A colaboração com Bowie, advinda de uma admiração mútua vinda de trás, catapulta Reed para o estrelato definitivo e dá à luz este Transformer, um álbum perfeitamente limado, e que roça a perfeição de forma quase comovente (todavia deixada em Velvet Undergrond & Nico).
Sim, é aqui que se encontram Vicious, Perfect Day, Walk on the Wide Side e Satellite of Love; todas elas pegadas profundas no terreno movediço no qual a música dos anos 70's se movia. As drogas, a ambiguidade sexual, o álcool, a procura do 'eu', a celebração das pequenas rotinas. Transformer acusa de maneira notória a refinação do som de Reed, talvez até em demasia. Talvez a única que lhe possa ser apontado seja precisamente o facto de não estar ali um Lou Reed a 100%. É, no entanto, um registo extraordinário. Todas as faixas são surpreendentes, dançáveis, despreocupadamente 70's. Destaque, além das suprasumo, para I'm So Free e Make Up, esta última um daqueles exemplos onde mais se nota a marca de Bowie.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Simbolismo Zero.

A bandeira da República hasteada nos Paços do Concelho em Lisboa foi retirada e, "durante uma noite e uma manhã houve Monarquia em Portugal".
O acto não faz qualquer sentido. A República atravessa tempos difíceis, isso é incontestável. A crise económica já transbordou para o domínio social há tempo demasiado. As pessoas não estão contentes, mas culpabilizar o regime político do país por esta situação é no mínimo - e para usar um adjectivo suave - questionável.
Trata-se de um acto em que não se sabem quais as reais motivações que estão por detrás do mesmo. Aparece como algo de infundado, aparentemente vazio, vindo do nada. Até mais detalhes, e sem uma justificação plausível, apenas sobressai a deselegância e (precisamente) a "falta de respeito pelas instituições" referida , inclusivamente , pelo blogue.
É, portanto, exactamente isso: uma evidente falta de respeito pelos símbolos nacionais de uma instituição pública democraticamente eleita. Aplaudiria se o blogue 31 da Armada se constituísse em movimento político, expusesse as suas ideias, e se candidatasse às eleições autárquicas; em vez de, habilmente tapados por máscaras de um personagem que nada tem a ver com a C.M. Lisboa, pela calada da noite, arrancasse bandeiras de edifícios públicos.
É, em suma, um mau exemplo de cidadania e um desprezível desrespeito pelo civismo e pelo Estado de direito.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Tart Me Up.


Há alturas em que o que apetece é nada mais do que um simples alheamento das coisas importantes do dia-a-dia, e em que o cérebro parece entrar numa espécie de 'piloto-automático'. É nestas alturas que assistimos impávidos ao desmoronar da hierarquia das nossas prioridades, dos nossos afazeres e passamos a endeusar algo que, mesmo lá no fundo, sabemos ser tão importante para o mundo como a lesão do terceiro guarda-redes do Terek Grozny. No fim, fica-se contente, com um sorriso aparvalhante nos lábios, contente por ainda se poder fazer destas coisas.
Qual grávida com desejos, tenho andado há uns tempos atrás disto. Nos EUA, andava completamente viciado neste pequeno rectângulo abolachado, neste maravilhoso manjar pré-cozinhado com cobertura e recheio dos mais diversos sabores (tanto tempo por terras do tio Sam, tanta coisa por que passei, e só me lembro destas coisas).
Hoje, chegaram-me de Inglaterra. O meu obrigado. E pronto, estou estupidamente contente.

domingo, 9 de agosto de 2009

[On] Fire!

Que os Kasabian são das bandas mais entusiasmantes do momento, já se sabia (vade retro Kaiser Chiefs). Prova disso reside por inteiro no novo álbum, magistral a todos os níveis. Os Kasabian estão para a música como Ibrahimovic está para o futebol: parece fácil. Só que esse 'fácil' advém da sua genialidade e da sua insubmissão.
Ao terceiro registo, os Kasabian estão mais maduros. Ao terceiro álbum, sabem o que querem e para onde vão. Talvez isso tenha sido (a única) falha de Empire. É como se nos perguntassem: o que é que vocês querem de uma banda? Que desejos têm os nossos sensíveis ouvidos? A resposta está em West Ryder Pauper Lunatic Asylum. Sim, eu por mim quero é Kasabian.
Para a rendição definitiva, aqui fica Fire, uma amostra do poder destes rapazes.


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Da Regulação e da Legitimidade na UE.


Os bons ou os maus resultados das políticas públicas europeias poucas vezes são atribuídos a Bruxelas. É notório que são os governos nacionais quem efectivamente mais lucra ou perde com os sucessos e falhanços das políticas europeias. Daí a necessidade de a União Europeia compensar os Estados por eventuais falhas sistémicas do mercado. A responsabilização da União Europeia pelo sucesso ou falhanço das suas políticas públicas é um aspecto que a aproxima daquilo que tradicionalmente é uma função do Estado. À medida que a União Europeia vai assumindo cada vez mais poderes e responsabilidades, torna-se imprescindível que tal transferência de competências seja acompanhada por um reforço da sua legitimidade democrática. Tal exigência é fundamental para a clareza de processos e para a transparência das funções da União Europeia aos olhos do cidadão, que só assim lhe reconhecerá legitimidade para tomar decisões e para aquiescer ao seu acatamento. A função reguladora da União Europeia, como reflexo mais ou menos óbvio e necessário do progressivo aumento das suas competências, só é justificável perante os cidadãos europeus se lhes for garantido uma maior participação no processo. Todavia, e ainda que a sucedânea de tratados tenha vindo a reforçar o seu papel enquanto tal, a verdade é que tal ainda permanece dúbio e o carácter paradoxal do Tratado de Lisboa não ajuda.
A passagem para o estudo da governação reflecte, deste modo, novas explicações para procurar saber qual o verdadeiro tipo de ordem política que actualmente representa a União Europeia. Mais concretamente, estamos perante uma entidade que assumiu um modelo mais aproximado aos cidadãos através da transferência de competências políticas para os centros locais e regionais de poder; uma entidade que procura garantir renovadas doses de democraticidade de modo a garantir que as decisões que toma e as políticas públicas da sua responsabilidade estão munidas da necessária legitimidade; e uma entidade que se tem concentrado em assumir uma das mais importantes funções clássicas do Estado, a regulação.
A meu ver, são estas as novas dinâmicas transnacionais – empiricamente comprovadas – que se destacam dentre os quadros teóricos disponíveis para a explicação do fenómeno comunitário. O caso português tem sido um bom exemplo delas mesmas: o pioneirismo em criar dinâmicas transnacionais de cooperação entre Portugal e Espanha e a manifesta diminuição da presença estatal em vários sectores da economia, verificada desde a adesão às Comunidades em 1986 são disso prova. Portugal tem sido um bom exemplo da ocorrência de lógicas de poder indirecto ou, conforme classificado por Focault, poder “disciplinar”: um poder exercido indirectamente pelos Estados, uma espécie de re-regulação transnacional, que não esconde todavia a erosão do poder dos governos nacionais.