quinta-feira, 26 de novembro de 2009

On the Beach (1974).


On the Beach, quinto álbum a solo de Neil Young, é ponto de referência na carreira do canadiano. Apesar da influência em grupos de grunge dos anos 90, On the Beach está longe de ser um álbum de desespero. Muito pelo contrário. On the Beach é um álbum de emancipação e transbordante de uma rejuvenescida confiança. A par de Harvest e do esmagador After the Gold Rush, é a grande obra do mestre. Embora menos popular do que estes dois, On the Beach encerra em si uma terrível ambiguidade, sendo que é preciso escutá-lo algumas vezes para nos apercebermos da total genialidade de Young, e da maneira com agarra no folk-rock e faz dele um género que podia levar com o seu nome.
Destaque evidente para For the Turnstiles, porque o mais genuíno, talvez o expoente máximo do registo. Mas é impossível escrever sobre On the Beach sem referir a enigmática Vampire Blues, bem como a canção homónima On the Beach, deslumbrante pela profunda mas alternada melancolia, mais em jeito de libertação do que de comiseração. Por fim, cabe a Ambulance Blues resumir o verdadeiro sentimento por detrás da obra: um lamento esperançado na mudança de hábitos de uma sociedade hipnotizada pelo superficial, abandonada ao poder dos poderosos e aos desvarios colectivos.
On the Beach é uma obra-prima, tardiamente reconhecida mas nem por isso menos divinal, tanto na música como no que a inspira. Speechless.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Os Limites do Novo Cargo.

"...Europe's chief diplomat will also not be allowed to venture beyond strictly defined limits when dealing with day-to-day politics. The high representative may be allowed to speak with the Turkish government about its relations with Iraq, but she will be prohibited from discussing with Ankara the prerequisites for possible EU membership, such as freedom of the press and respecting human rights. In the future, the issue of Turkish membership will still be reserved for the Commission. In the Balkans Mrs. Ashton can talk about everything under the sun -- but will be strictly forbidden from mentioning possible financial aid from Brussels. Everything that has to do with EU enlargement falls under the jurisdiction of the Commission. She will also have to steer clear of key areas such as foreign aid and international trade."

Presseurop, aqui.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Desilusão Completa.


O actual chefe do governo belga e a commissária europeia do comércio foram hoje escolhidos, respectivamente, para os recém-criados postos de presidente permanente do Conselho Europeu e de Alto Representante da UE para a Política Externa e Política de Segurança. Herman Van Rompuy e Catherine Ashton são dois rostos que representam nada mais do que um consenso absurdamente minimalista e que não favorece em nada o que se pretendia da União Europeia num momento histórico como poucos desde a assinatura dos tratados de Roma.
O primeiro-ministro belga cessante é conhecido pelo seu estilo low-profile, e apresenta-se como uma figura pouco carismática e desconhecida. O seu papel, como de algum tempo para cá se vinha a suspeitar, será mais institucional do que pró-activo.
Mas se a nomeação de Van Rompuy ainda é justificável à luz do quadro de competências que lhe está atribuído, o pior é mesmo a nomeação da Sra. Ashton: sem qualquer tipo de experiência reconhecida em termos de diplomacia, sem nunca ter ocupado um posto ministerial, e com um background pessoal totalmente diferente do expectável para ocupar um posto daquela envergadura. Apesar de representar um grande país, não terá a presença forte nem o peso político de nomes como Tony Blair, David Miliband ou de um Martti Ahtisaari, este último de longe a melhor escolha.
Ahtisaari representava, em termos pessoais, tudo aquilo que UE pretende ser na arena internacional: uma comunidade política exportadora de valores e de princípios de boa governação e direitos humanos, apologista dos compromissos multilaterais e do respeito pelo Direito Internacional. Era uma personalidade com carisma, muitíssimo experiente, com reconhecidos dotes diplomáticos (na boa tradição nórdica), respeitado internacionalmente pelo seu percurso como enviado especial da ONU às negociações para o estatuto final do Kosovo, pelo importante papel desempenhado na resolução de vários conflitos por todo o mundo, e prémio Nobel da Paz em 2008.
Gorou-se, como muitos analistas acreditam, um momento de excepção para uma definitiva consolidação e expansão do papel da UE nos assuntos internacionais. O Tratado de Lisboa é um passo demasiado aprofundado na integração, e talvez por isso muitos governos não arriscaram em mais mudanças de fundo. É muita mudança para tão pouco tempo. Pena é estarem muitas capitais por esse mundo fora a rir à gargalhada. Não é para menos. Se eu estivesse no Kremlin também me ria. De alívio. Mas ria.

sábado, 14 de novembro de 2009

Senhoras e Senhores: o Flåmsbana.




Digerida a passagem por alguns dos sítios mais belos que já presenciei "in loco", chega a altura de escrever mais algumas palavras sobre as maravilhas da região de Vestlandet - literalmente 'terra do Oeste'.
Desta vez para aferir um pouco mais sobre uma das mais idílicas linhas férreas do mundo, a linha de cerca de 20km de extensão que liga as pequenas localidades de Flåm e de Myrdal. Trata-se de uma pequena linha férrea com ligação directa à linha principal Oslo-Bergen, mas que em tão curta distância é capaz de proporcionar momentos não menos inesquecíveis. Em apenas 20km, a linha férrea sobe continuamente entre montanhas e vales em ziguezague, desde o nível do mar até atingir ao longo do percurso os perto de 900 metros de altitude.
O Flåmsbana - assim se chama a nossa simpática composição - torna-se no guia que transporta o mais desprevenido dos visitantes a uma visita guiada com vista privilegiada sobre o recorte natural da região, uma maneira fantástica de absorver por completo o lugar onde nos encontramos. Absorver a beleza indescritível da viagem não é fácil, tal como não é fácil libertarmo-nos do torpor embevecido depois desta terminar, já em Myrdal, a uns muito respeitosos 866,7 metros, e encurralados por deslumbrantes montanhas onde o branco impera.
Menos não seria de esperar de uma linha férrea constante do restrito lote das 25 mais belas do mundo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ideias.

Só para reforçar a idea do post anterior:

"Os Estados Unidos lidarão connosco de acordo com aquilo que formos. Ver-nos-ão como uma Europa dividida e virar-se-ão cada vez mais para as grandes potências que contam no mundo. Apostarão cada vez mais num G2 com a China, ou no G20. Mas não num G3, em que a Europa funcionaria como um parceiro igual aos EUA e à China.
É por isso que insisto tanto em que temos de aproveitar este momento histórico para construir uma Europa forte, que fale a uma só voz na cena mundial e que seja capaz de defender os seus próprios interesses."


Timothy Garton Ash

Público, aqui.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ainda há Muros 20 Anos Depois.



Para a geração da qual faço parte, o Muro de Berlim vem apenas nos livros de História. Muitos de nós nao se recordarão daquele dia 9 de Novembro de 1989, demasiado novos para nos apercebermos da importância do momento. Para as gerações mais velhas, que o puderam viver e saborear, o sentimento será outro. Para os povos da Europa central e de leste, mais do que para qualquer cidadão de um estado europeu periférico, a queda do Muro é um momento sem precedentes na História.
1989 foi o ano de todas as transformações, de todas as revoluções. O derrube do Muro significava nada menos do que o advento de uma nova ordem mundial, erigida sobre as ruínas de um gigante com pés de barro, o cadáver mumificado que Moscovo mantinha vivo a custos insuportáveis. A concretização do grito de Reagan demorou menos de nada.
Para a Europa, era o início de uma nova era. O precipitar dos acontecimentos na Europa de leste foram protagonizados por povos esclarecidos o suficiente para saberem que não mais os muros e as fronteiras de um continente poderiam continuar agrilhoadas à mercê de um qualquer politburo de uma capital estrangeira. Os acontecimentos da fronteira austro-húngara e da Polónia foram determinantes para a queda do Muro e, logo, para a reunificação da Alemanha e da Europa. Acreditava-se que a vontade estava do outro lado, e estava mesmo.
O Muro abriu caminho a uma renovada construção europeia, fez acelerar o processo de uma forma que nem os líderes mais optimistas previram. Abriu espaço a um período de fé e de esperança no futuro, que Maastricht materializou. Abriu também caminho ao alargamento, esse novo desígnio que conduziu as prioridades de Bruxelas durante os 15 anos seguintes e que ainda perdura, apesar de a etapa principal estar completa.
No entanto, 20 anos volvidos, ainda há muros nesta Europa. Cedo os Balcãs fizeram a Europa descer a terra, relembrando-lhe as suas muitas fraquezas e fragilidades. Recomposta, depois de corrigidos alguns erros e reconquistada a paz, falta estender a pacificação completa à região, de onde – felizmente porque é bom sinal – virão alguns dos próximos membros deste clube. Muros ainda perduram, mais a leste: entre outros, Lukashenko ainda é Presidente e a revigorada tenaz russa ainda prende os movimentos de Kiev.
Duas décadas depois de caído o Muro da Vergonha, é preciso olhar para trás e ver o que foi conquistado e o que ficou por fazer. Mais do que nunca, a Europa precisa de união e de ter dois motores a funcionar em simultâneo: um económico e um político. Cada um deles não faz sentido por si só. O grande desafio para os anos que se avizinham, agora que Lisboa vai entrar em vigor, está em provar a todo um continente que isto é possível. Haja a abertura de espírito necessária para esperar o melhor desta Europa unida. Lembremos 89 e derrubemos também esse Muro.

sábado, 7 de novembro de 2009

1-0 do Nosso Contentamento.

E já está! Aqui está a prova do que o Vitória pode fazer com atitude e com garra. O Braga cai onde menos queria: em Guimarães!! Noite de merecida alegria para todos os vitorianos, há tempo demasiado precisados de um bálsamo destes. Ganhar ao Braga é como juntar conhaque e trabalho: sua-se e sofre-se desalmadamente, mas é de um prazer divinal...
O festejo do golo foi um profundo desabafo colectivo após as semanas conturbadas que o clube tem vivido. Um festejo monstruoso só ao alcançe dos melhores adeptos do mundo e, mesmo à distância, tão familiar.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Filhos do Rei Não Mostram Medo!

Longe de Guimarães, dou por mim a reflectir um sem-número de vezes na vontade que tenho em estar no estádio amanhã, dia em que o Vitória disputa um dos mais interessantes jogos da época. Não posso naturalmente, mas vou torcer avidamente à distância, sabendo de antemão que vou ter o coração a bater duplamente depressa durante 90 minutos.
Já na ânsia pelo desafio, reflicto naqueles bons velhos anos em que ficar à frente do Braga era absolutamente banal, um dado quase adquirido, poucas vezes interrompido. Lembro-me, ao longo dos idos de 90, de não se falar em rivalidade como se fala hoje. O mundo vitoriano, rotinado a vencer o rival, bocejava quando o assunto era jogar com ele. Lembro-me de não ser conversa recorrente a comparação entre os dois clubes, pois tal era simplesmente disparatado, tal a diferença de dimensão. O Braga era confortavelmente relegado para segundo plano pelos vitorianos, sempre confiantes no triunfo.
Ganhar ao Braga era rotineiro, uma tarefa enfadonha cumprida com dever de missão - uma terapia sazonal para os vitorianos. Ganhar ao Braga era um desporto municipal; o mestre a ensinar ao aprendiz como se faz, com repetidas demonstrações de pura grandeza. O Vitória ganhava ao Braga porque, como acontece na Mãe Natureza, o mais forte dita a lei e sobrepõe-se ao mais fraco. Saudosos tempos em que o Vitória fazia de Astérix, esmurrando consecutivamente os de Bracara Augusta, com arraiais sistemáticos de golos, para nosso deleite e para resignação alheia.
Agora pergunto: e hoje? Que se passa com um clube que recebe o Braga e parece encolher-se, amedrontado, fugidio face ao vizinho que sempre lhe foi, e continua a ser, inferior? Inferior em adeptos, inferior no fervor clubístico, inferior no historial, inferior no simbolismo, inferior na paixão e na união? Que receio se pode ter face a um clube inferior a todos os níveis? O Vitória nunca, mas nunca se pode acanhar contra o Braga, sob pena de perder o estatuto que detém actualmente perante o panorama futebolístico português e perante o próprio país, de resto seu por direito.
Mesmo em crise directiva - mais do que directiva, estrutural - o Vitória como instituição, como clube de dimensão incomparavelmente superior, não pode nunca recear um clube como o Braga. É nestes momentos, ainda que cirúrgicos, que o Vitória tem de relembrar ao seu vizinho rebelde quem é maior. Tem de se agigantar com naturalidade, dando vazão ao estipulado pela Mãe Natureza: os mais fortes vencem naturalmente os mais fracos.
Vamos cumprir a nossa função! Lembrai-vos de quem ostenta o Rei na camisola! A eles Vitória, sem tréguas! Viva Guimarães!! Viva o nosso Vitória!!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ida e Volta ao Paraíso.


Não faltam momentos ao comum dos mortais em que a crença nas coisas boas e bonitas deste mundo se parecem afundar num mar de dúvidas, de ansiedade despropositada e, acima de tudo, de falta de fé e de vontade de sorrir. Afundados nas nossas modestíssimas vidas quotidianas, agrilhoados a coisas não raras vezes superficiais, laterais, à procura de um qualquer bem maior que nos faça feliz, sem realmente saber exactamente qual, o quê, ou quem.
Só por estes dias tive a certeza de que a felicidade pura e embevecida só pode ser proporcionada pelo contacto com a perfeição. Perfeição, conceito inerentemente avesso à presença humana, só pode ser proporcionado pelo contacto com um lugar que parece permanecer fora do mundo e das coisas terrenas, acima da iniquidade e da perfídia dos Homens, bem junto de algo que não somos capazes de entender.
O contacto com os fiordes levou-me, durante algumas benditas horas, a estado de letargia emocional, a uma espécie de nirvana onde nada mais existia senão as majestosas montanhas, as árvores, a água. Esmagado pela beleza natural circundante, senti estar perante algo de divino, de incompreensível. Como se olhar extasiado para uma paisagem tocada por Deus nos fizesse estar mais próximos da verdade, mas ao mesmo tempo, longe como sempre.
Durante algumas horas, sei que estive preso a um sentimento chamado felicidade, não àquela felicidade de todos os dias, mas a um preenchimento de todos os cantos da alma por esse sentimento que, bem vistas as coisas, é a única razão pela qual habitamos esta Terra.
Durante algumas horas, fiquei com a certeza de que o verdadeiro mundo é aquele, não é o nosso. Durante algumas horas, não fiz parte dele.