terça-feira, 25 de maio de 2010

Os Não Alinhados.

É este o nome da nova aventura pela blogosfera a que me proponho. Uma aventura colectiva, pensada e construída com amigos de longa data. A formação comum na área da Ciência Política e das Relações Internacionais serve de leitmotiv para o blogue mas não só: o Não Alinhados não se cingirá exclusivamente a esse domínio do saber, antes versará sobre os interesses pessoais de cada um dos seus escribas, incluindo as áreas do Marketing, da Economia e da Gestão.
A palavra de ordem do blogue é liberdade, pois acreditamos que só assim faz sentido. Procuraremos ser oportunos nos comentários, nas análises, na expressão de opiniões sobre o que vai acontecendo em Portugal e no Mundo, para o bem e para o mal - e, porque não, na partilha de algumas experiências pessoais que julguemos de interesse para quem nos visite.
Quanto ao meu querido Escrito na Pedra, já andava sonolento e vai agora entrar em hibernação. Convido todos os leitores deste blogue a visitarem o novo sítio deste escriba na Internet, um sítio que se espera mais dinâmico e funcional, em prol da boa discussão de ideias, mais motivante tanto para leitores como para quem escreve.
Vemo-nos aqui. Até já.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Single Man.


Uma estreia auspiciosa. É o mínimo que se pode dizer da que Tom Ford teve atrás das câmaras, na adaptação de A Single Man, romance homónimo de Christopher Isherwood, uma história passada no ano politicamente quente de 1962. O reverenciado estilista norte-americano rubrica uma obra de fazer cair o queixo, onde nada parece falhar. Todo o filme é uniforme, uma sinfonia de sentimentos que vem cobrar ao espectador a desfaçatez de, num laivo de preconceito, alguma vez ter duvidado do talento de alguém que desenha roupas. Não se duvide pois, já que A Single Man é um daqueles filmes que nos surpreendem não só pelo nome de quem realiza, mas por uma conjugação simbiótica de dois actores soberbos, Colin Firth e Julianne Moore. Se Firth, na pele de um professor universitário homossexual que perde o amor de uma vida até aí perfeita, enche completamente o ecrã; Moore aparece fulgurantemente como a sua cara-metade, alguém com quem partilha um passado comum, embora um pouco menos tortuoso.
O grande mérito de Ford (que surpresa mais uma vez!) reside na captação perfeita do tormento de George Falconer (Colin Firth), e da fragilidade e permeabilidade do seu estado de alma ao longo daquele que será o seu último dia de vida. O jogo de cores que Ford faz trespassar para fora do ecrã tem uma força tremenda, e realça ainda mais a já de si espantosa interpretação de Firth. Ford consegue também, e o filme não o esconde, transportar os seus dotes de profissional da moda para a tela, num trabalho meticuloso de design, notoriamente assente numa produção de época imaculada. Os ambientes, as interpretações e, não esquecendo, a glamorosa banda sonora, conferem ao filme um poder hipnotizante sobre o espectador, cedo rendido à sua beleza.
Tremendamente emocional, A Single Man faz a apologia dos mais profundos sentimentos humanos, a dor, a perda, o vazio, o amor; alcançando essa quase inenarrável proeza de acometer na mesma obra uma realização tão pessoal e tão viva, conjuntamente com uma estética carregada de charme e de significado combinação que só poderia resultar num filme simplesmente...arrebatador.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Questão Quirguize.

Foi hoje publicado no blogue Da Rússia, um texto da minha autoria sobre os recentes tumultos no Quirguistão. Esta república centro-asiática tem sido notícia de primeiro relevo nas últimas semanas, devido à queda do governo de Kurmanbek Bakiyev e à ameaça iminente de guerra civil.
Os meus agradecimentos ao autor do blogue em questão, o jornalista da Agência Lusa José Milhazes.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quando a Educação é Esquecida.

Esta notícia fez-me hoje recordar não apenas os anos de secundário mas, infelizmente, os de licenciatura e até o de mestrado. Volta-me à memória a chocante desfaçatez com que a falta de conhecimentos e de preparação básica minam um espaço universitário que deveria ser de discussão, em que a aprendizagem deveria apelar constantemente ao espiríto crítico e de análise dos alunos, e em que que a avaliação fosse um processo rigoroso mas acima de tudo justo e criterioso. Não são assim as universidades neste país, antes um ilógico prolongamento do ensino secundário, e onde são imaculadamente reproduzidas as suas insuficiências.
Poderia falar na minha experiência pessoal, as machadadas no conceito de educação que presenciei in loco, nas vezes que fingi que não ouvi ou que não quis perceber o que ali estava a acontecer. Episódios graves que atestam o referido na notícia, perpetrados por vários agentes educativos, conhecidos e lamentados por todos, apenas com a salvaguarda devida de que tudo continua exactamente na mesma com tendências a não melhorar.
O sistema educativo deste país está minado desde o ensino básico até ao superior, com problemas que vão desde a falta de exigência, ao laxismo que permite que alunos transitem de ano quando não o poderiam nunca; à secundarização da importância dada ao cultivo das competências essenciais para fazer face ao ensino universitário, como sejam a capacidade de relacionar conceitos, ou de separar o essencial do acessório ao longo do processo de raciocínio. Até à universidade, o ensino é superficial, virado quase exclusivamente para a memorização e para a verbalização sem critério do veiculado nos manuais. Estas falhas estruturais, das quais menciono apenas algumas, crónicas e enraízadas ao longo de tantos anos, desembocam na má preparação dos alunos para a ensino superior.
Já as universidades, parecem-me irrevogavelmente afectadas pelos problemas dos ciclos de ensino anteriores e deles não parecem conseguir libertar-se. Aos poucos, o grau de exigência foi decrescendo, em todo o lado é permitido o recurso a subterfúgios de vária índole que atestam a incapacidade de fiscalização do sistema, e os tiques de criancice mal curada saltam à vista em qualquer universidade. Esta é a realidade que de nada adianta escamotear.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sintomático.


Outra vez o velho problema. Numa altura em que já vigora o Tratado de Lisboa, ainda não existe articulação interna nem consenso sobre a aplicação prática das suas disposições. Nada que não se previsse já, mas o facto de Herman Van Rompuy não ter logrado sequer um breve encontro privado com Barack Obama na última Cimeira para a Segurança Nuclear, em Washington, demonstra que o caminho para uma sólida implementação do Tratado está mais longe do que o imaginado. Obama preferiu encontrar-se com Angela Merkel, a toda-poderosa chanceler alemã, que representa um estado, está claramente mandatada para tal, e "make things happen" se assim o entender. Tendo em conta o elevado sentido prático dos americanos, não admira nada que Obama prefira perder tempo com os trabalhos de casa da sua filha mais velha do que cinco minutos com Van Rompuy, que só resultariam em ofuscadas e torpes declarações comuns, e em muitos bocejos do lado de lá do Atlântico.
O acto não caiu bem em Bruxelas, mas é sintomático da incapacidade da UE retirar o devido potencial do Tratado que, com tamanha vontade política pelo meio, tanto pugnou por aprovar. Na altura, os sinais eram positivos, para logo se esbaterem perante a nomeação de um par de figuras "low profile" para os novos cargos. Mais do que as figuras e o seu papel, permanece uma incógnita se a UE a 27 saberá ou conseguirá fazer-se reger efectivamente pelas regras que nele constam, ou se o tempo ditará se foi dado um passo maior do que perna.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Valleys of Neptune.


Muita curiosidade e o caso não era para menos. Valleys of Neptune, contendo uma dose considerável de inéditos e de novas versões não editadas de Jimi Hendrix de 1969, tinha data marcada nos escaparates para 2010, o que desde logo fazia dele um dos álbuns mais aguardados do ano.
Muitos poderão dizer que é mais do mesmo, que Valleys não acrescenta nada de novo à típica sonoridade Hendrix. Da minha parte, pergunto que mal isso tem. O maior prazer retirado de Valleys é precisamente o de constatar vezes sem conta e repetidamente o génio de Hendrix, o seu talento inacreditável, como se a guitarra fosse uma extensão natural do seu corpo. Não pode haver qualquer tipo de desilusão ou desprazer em (re)descobrir uma vez mais o seu incomensurável talento, o seu génio puro, alguém que fez com a guitarra o mesmo que Picasso fez com o pincel, ou Shakespeare com as palavras. Falamos de artistas únicos, cujo dom se confunde ao longo dos tempos com a arte que dominam.
Hendrix é dos poucos predestinados do firmamento artístico que nos fazem acreditar nas possibilidades infinitas da música enquanto processo criativo em evolução, e em constante reinvenção. Valleys é mais uma prova indesmentível disso mesmo. Imperdível.
Em baixo, Bleeding Heart:

quinta-feira, 25 de março de 2010

A Diplomacia Pura.


Mesmo sendo um livro que se pode considerar técnico, pois trata de conceitos operacionais que dizem respeito à instituição diplomática e às técnicas de negociação diplomática, este A Diplomacia Pura, da autoria do proeminente Embaixador José Calvet de Magalhães, apresenta-se também como uma boa sugestão para todo o espírito curioso com interesse por questões diplomáticas. Não só Calvet de Magalhães, mesmo sendo diplomata de carreira, sabe ter uma escrita prazenteira e quase romanceada, como também a sua proficuidade e a sua profundidade de análise conseguem tornar um assunto aparentemente cinzento numa leitura interessantíssima e reveladora.
Como diplomata de inegável craveira que o foi, com passagens por postos tão distintos como Washington, Boston, Paris, Cantão e Santa Sé, e ainda pelo cargo de secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Calvet de Magalhães alia o seu saber enciclopédico à experiência acumulada durante décadas. É desta forma que o autor começa por fazer uma distinção essencial que trespassa todo o resto da obra, a distinção entre política externa e diplomacia, conceitos que amiúde aparecem confundidos e misturados tanto pelo público em geral, pela imprensa, e mesmo por especialistas na matéria.
Depois deste esclarecimento, importante para ler o resto do livro com outros olhos, o autor prossegue com um compêndio histórico da evolução da diplomacia enquanto prática progressivamente instituída desde a Antiguidade na vida dos povos. Seguem-se aspectos mais específicos, como sejam os diversos tipos de diplomacia (secreta, aberta, bilateral, multilateral...); as patologias de que a diplomacia pode sofrer, mas que não são exactamente diplomacia nem podem ser confundíveis com esta (diplomacia paralela, espionagem...); até aos aspectos que caracterizam a actividade diplomática propriamente dita, sintetizados em representação, informação, negociação, promoção, protecção, e extensão externa do serviço público.
Mais do que recordar algo de que já se tomou contacto noutros âmbitos, ler algo como A Diplomacia Pura é como reler Os Maias fora das pressões escolares: o saber pelo prazer torna-se em algo menos mecanizado e, logo, mais clarificante e eficaz.

quarta-feira, 10 de março de 2010

a máquina de fazer espanhóis.


Da mera suposição à certeza distam apenas algumas páginas. Já várias por várias vezes lera e ouvira falar sobre valter hugo mãe, sempre bem, mas sem nunca ter tomado a iniciativa de ler atentamente qualquer uma das suas obras. Como as novidades são sempre as que mais ressaltam à vista, aí vai de mergulhar de cabeça neste a máquina de fazer espanhóis.
A história nada teria de extraordinário, não fosse toda a reflexão inesperada e aparentemente inócua que lhe é transversal, e que em última instância lhe dá substância e a torna maravilhosa. Esta a história de quem, já octogenário, se vê obrigado a enfrentar toda uma nova vivência após a a inesperada morte da mulher. O senhor silva, assim se chama o protagonista, é envolvido ainda que sem se aperceber num quotidiano que lhe mostra que a vida não acaba ali, e que permanece, mesmo no adiantar da vida, cheia de pequenas alegrias e surpresas.
O mais eloquente são sem dúvida as sucessivas reflexões interiores do senhor silva, como se por qualquer milagre científico fosse possível estar dentro do coração e da alma de alguém, e de sentir o pulsar de uma vida já com tantas décadas. a máquina de fazer espanhóis consegue ter esse raro dom literário de do velho fazer novo, de transformar algo simples e banal em algo com que se vibre, em que se reflicta e onde o que importa não é sentir alegria ou tristeza, mas simplesmente sentir.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

The Road.


A obra literária vencedora do Prémio Pulitzer para ficção em 2007 é nada menos que assombrosa. Cormac McCarthy, autor tarimbado e cada vez mais admirado, rubrica um romance enigmático, mas com muitas pontas soltas onde nos agarrarmos e reflectirmos. The Road transporta o leitor para um mundo pós-apocalíptico onde quase toda a vida no planeta desapareceu.
The Road é um relato fascinante de uma missão hercúlea em que pai e filho tentam, por todos os meios possíveis e imaginários, chegar à costa por entre um continente americano desolado, onde abundam grupos canibais ("the bad guys"). É este o pano de fundo para uma saga de sacrifício, sofrimento em doses massivas e muito, muito amor paternal, em contraste absoluto com a paisagem e com a bíblica tarefa que pai e filho têm de superar.
Neste contraste reside a riqueza da história, e é aqui que McCarthy mostra o seu génio literário: apesar da devastação e da aniquilação da civilização tal como a conhecemos, há espaço para aquilo que de melhor tem a raça humana, o amor pelo próximo, o qual é capaz de superar tudo e de explicar o grande mistério da vida.
O filnal é surpreendente, digno dos grandes clássicos, e constitui a súmula de toda a mensagem de McCarthy, um dealbar de esperança num futuro novo. Após ter protagonizado a destrição do seu planeta, só é permitida à raça humana um "reset" pelo mais simples e ao mesmo tempo mais complexo dos sentimentos. Um livro poderoso, assente no imaginário assustador mas credível de McCarthy, arrepiantemente cru e cruel na forma, mas portador de um desesperado repto a que é impossível ficar indiferente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Uma Casa Vitoriana Com Certeza.


Depois de assente a poeira motivada pela indecisão de Pimenta Machado em concorrer à presidência do VSC, e agora que já é possível falar em candidatos efectivos e não em pré ou pseudo-candidatos, entendo ser esta a altura correcta para discorrer algumas ideias sobre o acto eleitoral e sobre o futuro do Clube.
Em primeiro lugar, é para mim um alívio saber que Pimenta Machado não é candidato. O direito de concorrer assiste-lhe como qualquer outro sócio que tenha as cotas liquidadas, ainda que todas de uma vez. Mas Pimenta não seria uma candidato qualquer. Pimenta representa um passado que o VSC não deve, para seu bem, escamotear. Pimenta é o símbolo de uma época que já passou, uma época cinzenta e nebulosa, a todos os níveis questionável. O VSC, como instituição, foi nas últimas semanas prova indelével de que a democracia é um sistema maleável, prestável a aparentes ditaduras das maiorias, ainda que essas (mais que duvidosas) maiorias tivessem sido alvo preferencial de sebastianismos enganadores e de pútridas declarações pintadas em tons atractivos para que os de memória curta, os impiedosamente amorais e os mais facilmente impressionáveis pudessem exercer a sua liberdade de "deitar" Pimenta.
A democracia precisa deles para funcionar, ainda bem que existem, pois aqui está uma boa maneira de esta se reafirmar e consolidar consecutivamente, predispondo-se à discussão e a uma continuada revitalização. Mérito aos sócios do VSC. Neste aspecto, só posso agradecer a Pimenta Machado o facto de ter contribuído nestes dias para a destruição - em curso desde 2003 - do mito pimentista. Obrigado e não volte.
Sobram dois. Pinto Brasil, de fala alarve e empinada, e Emílio Macedo da Silva. Sobre a presidência deste último, ocorrem-me sempre que nela reflicto, as palavras de um general romano que em tempos idos declarou sobre os Viriatos, esse "povo que não governa nem se deixa governar". Palavras sábias, vindas de um observdor externo, imparcial e descomprometido. Também os há hoje, mas não somos nem podemos ser nós. Ninguém como nós se gosta de sentir agrilhoado, muito menos quando qualquer decisão ou gesto presidencial nos atinge como se roubassem o chupa-chupa a um filho nosso ou remexessem na nossa mais-que-tudo gaveta da mesinha de cabeceira.
Do ADN do Vitoriano faz parte um amor quase petrarquiano ao Clube, e não permitimos que ninguém lhe faça mal. Pimenta disse que o VSC era como um filho, esquecendo-se que falava do filho de todos nós. Só não lhe contamos histórias à noite nem lhe levamos o leite à cama antes de dormir porque as nossas mulheres, mães ou namoradas ficariam seriamente preocupadas com a nossa sanidade mental se nos vissem afagar com olhar choroso e embevecido o galhardete ou a camisola de treinos do nosso querido VSC.
Ora aquela que foi, é e continuará a ser a grande força e o grande património deste Clube é também um dos seus maiores focos de instabilidade. A frase pode parecer dura demais ou injusta, mas é verdadeira. Contra mim falo, já que faço o mesmo. Berro como todos berram, insultam como todos insultam, gesticulo; mas sei, bem lá no fundo, que é mais fácil as ilhas Vanuatu declararem já hoje guerra aos Estados Unidos do que contentar a 100% um Vitoriano.
Pois é tempo de calma. O VSC tem sido em todos estes anos um antro de sectarismo e de acirrados antagonismos, que só prejudicam o Clube. O VSC não é suficientemente grande para tanta crispação, tanta maledicência barata, tanta crítica destrutiva e tanta animosidade contra os presidentes ou contra grupos de sócios.
Tudo piora quando existe um factor de instabilidade, externo ao Clube, que nos faz remoer de raiva por dentro, chamado Sporting de Braga. Este tem sido outro grande problema do VSC, e que tem injustificadamente transbordado para a vida interna do Clube. O exemplo do SCB é frequentemente citado quando alguma coisa no VSC corre mal. Mas muitos Vitorianos esquecem-se que o Braga passou anos sucessivos sem alcançar qualquer tipo de sucesso. Há quantos anos é Salvador (sim, esse que nos admira) é presidente do Braga? Quantas desilusões tiveram os adeptos do Braga antes deste ano, o ano de todas as maravilhas? Quanta e que tipo de contestação interna tem Salvador? Tem alguém a minar-lhe o caminho, tem presidentes da Assembleia Geral a fazer líder da oposição? Tem ex-dirigentes ricos de berço e pobres de maneiras a achincalhar direcções ao desbarato? E já que se fala tanto em contas, qual o passivo do Braga? O Braga, clube de todas as ilusões, e incomensuravelmente mais pequeno do que o VSC, respira saúde financeira por todos os poros? No Braga houve paciência, houve um presidente que pegou no clube e que passo a passo o levou à época que hoje meritoriamente protagonizam. Muita coisa correu mal pelo meio. E no VSC? Se precalços da mesma dimensão acontecem, cai o Carmo e a Trindade. As direcções do VSC não podem ser culpabilizadas pelo sucesso dos rivais.
O exercício da cidadania - neste caso de associação - deve ser responsável e racional.- A responsabilidade dos sócios é fazer críticas, preferencialmente construtivas, e não associar todo e qualquer assunto do Clube à falta de golos nas balizas adversárias.
Os Vitorianos têm de pensar o que de bem e de mal foi feito nos últimos anos, o que o Clube alcançou e cresceu (muito), mas têm de estar cientes das suas dificuldades, compreendendo que o Céu não é o limite. Todos queremos mais, mas não podemos estar com quantro pedras na mão cada vez que uma direcção toma ou se prepara para tomar uma decisão, e muito menos quando a equipa entra em campo. O principal papel do adepto é apoiar, tanto a equipa como as direcções. Não incondicionalmente, mas com responsabilidade e moderação.
Nos últimos tempos o apoio à equipa tem-se esbatido, e a culpa parece ser da direcção. Não o é. Este princípio é errado, são os sócios que devem puxar pela equipa e não o contrário; devemos pensar o que podemos fazer pelo VSC e não no que o Clube pode fazer por nós. Os Vitorianos não estão a deixar de ser únicos. Os Vitorianos SÃO e continuarão a ser únicos, mas devem apostar em dar às direcções e aos restantes profissionais do Clube mostras da sua grandeza, de modo a que todos eles percebam onde estão e o que deles se espera. Não nos podemos substituir a funcionários, dirigentes e jogadores do Clube, nem ser impiedosamente críticos quando as coisas correm menos bem. O nosso papel como sócios amantes deste Clube é fazer o que fazemos melhor, aderência em massa aos treinos, iniciativas pujantes e merecedoras da atenção e do respeito de todos, divulgação do nosso Clube além cidade, etc. Enfim, ser criativos como sempre fomos e como sabemos ser. Não devemos tentar a todo o custo levantar a voz acima dos outros com mezinhas milagrosas para o sucesso do Clube, nem com receitas infalíveis, nem com ideias iluminadas. A era do "eu é que sei", do "eu faria melhor", do "eles são todos burros", do "eu é que tinha razão" seria bom que acabasse. Quer queiramos quer não, esta é a verdadeira força do Clube, na ausência de cofres cheios de milhões para comprar jogadores. Sem esta massa associativa, o VSC é apenas mais um. Pensemos o Clube sim, mas sobretudo pensemo-nos a nós também - para que o VSC não se vulgarize.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Poder pelo Exemplo.


O jornal Expresso avança hoje com uma notícia surpreendente e inesperada. Fernando Nobre, fundador e presidente da Assistência Média Internacional (AMI), vai apresentar uma candidatura à Presidência da República.
Depois de um primeiro impacto de estranheza e de alguma interrogação, motivado mais pela surpresa do que por outra coisa qualquer, esta candidatura merece desde já o meu aplauso e a minha mais profunda simpatia. Desde logo pelo perfil e pela obra humanista a que Fernando Nobre dedicou toda a sua vida. Não sendo um político profissional - e muito menos um "animal político" - tal joga a seu favor numa candidatura a um cargo que, por definição constitucional, deve garantir entre outras prerrogativas, a "unidade do Estado".
Uma figura tão comummente respeitada fica automaticamente mais propícia à geração de consensos dentro da sociedade portuguesa, uma condição importante para o regular desempenho das funções de Presidente da República. A candidatura de Fernando Nobre personifica uma dimensão ética a que a política tradicional nunca devia estar alheia, e desperta a natureza suprapartidária desta eleição, algo que é muito positivo para o sistema político português e para a própria República, que este ano celebramos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Alma-Ata.







Alma-Ata, Casaquistão. Dezembro de 2009.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O Mundo Está Menos Democrático.

É esta a conclusão de um relatório da Freedom House, a ser publicado na íntegra na próxima Primavera, que dá conta de um regressão da liberdade no mundo. O assunto é tema central de um interessante artigo do The Economist, incluído na edição deste mês do Courrier Internacional.
Altamente aconselhável, o artigo reflecte sobre o estado da liberdade e da democracia liberal no mundo, que durante os últimos anos não tem conhecido evoluções positivas. Há mais estados recentemente entrados no lote dos "não livres" do que aqueles que fizeram o caminho inverso. A realidade, pura e dura, é um sinal claro de que a comunidade dos países livres, bem como as organizações políticas e económicas internacionais não têm tido sucesso na promoção da democracia, dos respeito pelos direitos humanos, e da liberdade económica um pouco por todo o mundo - valores que não sendo os mesmos geralmente aparecem associados.
É tão importante apurar as causas desta regressão como repensar o tipo de política e de envolvimento em zonas do mundo "não livres" seguido pelo mundo democrático, e com poder para o fazer. A reflexão, oportuna, levada a cabo pelo artigo presta atenção tanto a um ponto como a outro.
A maior causa para a regressão da democracia no mundo parece ser o descrédito da ideia de que um sistema político pode exportado por via das armas, aliado à evoluções registadas no sistema internacional como a ascensão de potências como a Rússia e a China: se, por um lado, Moscovo tem constituído um sério entrave à promoção do soft power europeu, Pequim tem feito provar que liberdade económica é compatível com um sistema política autocrático.
As democracias terão pois desafios difíceis e complexos pela frente, pois terão de provar continuamente que um sistema político democrático e respeitador dos direitos humanos é o sistema que melhor assegura a riqueza, a prosperidade económica, a segurança e a justiça no seio das sociedades. Felizmente, continua a ser verdade que os sistemas autoritários são mais passíveis de instabilidade do que as democracias; e que um clima de liberdade e o pensamento livre, plural e independente oferecem melhores condições para um desenvolvimento económico sustentado do que a alternativa autoritária. Em suma, e conforme remata o artigo, "a democracia não prevalecerá se os seus defensores não governarem bem."

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

The Company (2007).


No tempo em que o mundo se dividia em dois blocos político-económicos antagónicos e irreconciliáveis, as actividades desenvolvidas pelas agências governamentais de espionagem e contra-espionagem detinham uma importância primordial no decurso dos acontecimentos. Por outras palavras, a "guerra" era "fria" precisamente porque disputada por meios não tradicionais, e em que por vezes valia mais o génio pessoal dos homens por detrás dos dois lados da barricada.
The Company, mini-série de dois episódios realizada por Mikael Salomon e co-produzida por Ridley Scott, mostra as mundividências do grande jogo que durou 46 a 91, os seus métodos, e sobretudo as regras da profissão, nem sempre vis. O que torna a série surpreendente é exactamente a familiarização com as regras deste jogo e com a abordagem adoptada por quem o jogava: imutáveis e implacáveis, mas com um pano de fundo onde imperava um certo reconhecimento e até respeito e admiração pelos cérebros oponentes.
Sem ser uma série de referência - está longe de o ser - The Company oferece-nos um reflexo privilegiado do fascinante mundo da espionagem, desfazendo alguns mitos (de que tanto gostamos) e mantendo outros. Aparte algumas passagens que pecam por uma desconexão algo simplória, e um ou outro erro de casting, The Company vale a pena pela riqueza com que trata certos aspectos da actividade, tais como o serviçal idealismo dos seus agentes, e a inelutável crença de muitos homens e mulheres de que as guerras não são ganhas apenas no campo de batalha ou atrás dos gabinetes das agências de segurança. Mas no terreno; em Berlim, Budapeste, Cuba e, do ponto de vista sempre parcial dos vencedores, em Washington, bem dentro do seu próprio covil.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Filme da Década.


Seria difícil concordar mais com a escolha que a Total Film de Fevereiro faz para melhor filme da década. There Will Be Blood, de Paul Thomas Anderson, foi o ilustre escolhido. Surpreendente e fascinante a todos os níveis, a obra de P.T. Anderson destaca-se das demais (e quantos excelentes filmes houve nos últimos dez anos) pela aura épica de Daniel Plainview, mais uma assombrosa interpretação de Daniel Day-Lewis.
Mas para além do génio absoluto de Day-Lewis, There Will Be Blood é um recrudescer de emoções afiadas como uma lâmina, irrepreensivelmente potenciadas por P.T. Anderson e protagonizadas por Plainview e pelo reverendo Eli Sunday (Paul Dano). De um lado a ambição de Plainview pelo ouro negro, extensão natural da sua vida; do outro, a ambição de Sunday em fazer a sua Igreja lucrar com as prospecções de petróleo. Deste confronto de egos e de ambições resulta uma encarniçada luta entre dois homem de mundos diferentes e aparentemente indestrutíveis. Toda a estética do filme é esmagadora, crua, por vezes até cruel, num sublime reflexo do perfil psicológico da dupla de protagonistas.
There Will Be Blood, passe o cliché, é de facto aquilo que se chama um "clássico instantâneo". Há muitos poucos filmes tão poderosos e eloquentes como este, não só na última década mas em toda a história do cinema. Não levou para casa o Óscar (como deveria), mas isso não lhe retira ponta de mérito.


domingo, 24 de janeiro de 2010

O Que Pensa o Urso?


Gigante euroasiático e país de inúmeras e insofismáveis contradições, a Rússia não enveredou por um caminho democrático ou democratizante durante o postulado de Vladimir Putin. Mais do que as contradições e o estigma do enigma que a persegue, a Rússia de Putin demonstrou ao mundo a actualidade da realpolitik e da hard politics. Putin não é Bismarck, mas soube como ninguém tirar partido das potencialidades do seu país, ao mesmo tempo que procurou, pelo menos até 2004, que o Ocidente abrisse à Rússia as portas das suas instituições e a aceitasse como a sua grandeza impunha: um parceiro igual e necessário. Como se sabe, sem sucesso.
O período que a Rússia atravessa é crucial para o seu papel no mundo nas décadas futuras. O país, apesar dos avultados recursos naturais, não detém um sistema político robusto e suficientemente bem entrosado entre os seus diferentes níveis, não apresenta um modelo de desenvolvimento económico a longo prazo que permita enfrentar os desafios que se vão revelando, e quase não tem aliados. Dentro das suas fronteiras, há um problema demográfico e uma união federal em risco.
A médio e a longo prazo, a Rússia terá que harmonizar as suas regras internas e a sua política externa, ainda hoje típica de uma grande potência do século XIX, e não de uma grande potência do século XXI. A interdependência entre os países desenvolvidos é hoje um dado incontornável, e ficar fora desse "jogo" não será opção para um país como a Rússia, cujos devaneios unilateralistas tenderão a acabar num futuro não muito distante.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

1910 ou 2010?

Ramalho Ortigão podia facilmente ser hoje um opinion-maker em Portugal:
"A indisciplina geral, o progressivo rebaixamento dos carácteres, a desqualificação do mérito, o descomedimento das ambições, o espírito de insubordinação, a decadência mental da imprensa, a pusilanimidade da opinião, o rareamento dos homens modelares, o abastardamento das letras, a anarquia da arte, o desgosto do trabalho, a irreligião, e, finalmente, a pavorosa inconsciência do povo."
Ramalho Ortigão, Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, 1910.