terça-feira, 20 de abril de 2010

A Questão Quirguize.

Foi hoje publicado no blogue Da Rússia, um texto da minha autoria sobre os recentes tumultos no Quirguistão. Esta república centro-asiática tem sido notícia de primeiro relevo nas últimas semanas, devido à queda do governo de Kurmanbek Bakiyev e à ameaça iminente de guerra civil.
Os meus agradecimentos ao autor do blogue em questão, o jornalista da Agência Lusa José Milhazes.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quando a Educação é Esquecida.

Esta notícia fez-me hoje recordar não apenas os anos de secundário mas, infelizmente, os de licenciatura e até o de mestrado. Volta-me à memória a chocante desfaçatez com que a falta de conhecimentos e de preparação básica minam um espaço universitário que deveria ser de discussão, em que a aprendizagem deveria apelar constantemente ao espiríto crítico e de análise dos alunos, e em que que a avaliação fosse um processo rigoroso mas acima de tudo justo e criterioso. Não são assim as universidades neste país, antes um ilógico prolongamento do ensino secundário, e onde são imaculadamente reproduzidas as suas insuficiências.
Poderia falar na minha experiência pessoal, as machadadas no conceito de educação que presenciei in loco, nas vezes que fingi que não ouvi ou que não quis perceber o que ali estava a acontecer. Episódios graves que atestam o referido na notícia, perpetrados por vários agentes educativos, conhecidos e lamentados por todos, apenas com a salvaguarda devida de que tudo continua exactamente na mesma com tendências a não melhorar.
O sistema educativo deste país está minado desde o ensino básico até ao superior, com problemas que vão desde a falta de exigência, ao laxismo que permite que alunos transitem de ano quando não o poderiam nunca; à secundarização da importância dada ao cultivo das competências essenciais para fazer face ao ensino universitário, como sejam a capacidade de relacionar conceitos, ou de separar o essencial do acessório ao longo do processo de raciocínio. Até à universidade, o ensino é superficial, virado quase exclusivamente para a memorização e para a verbalização sem critério do veiculado nos manuais. Estas falhas estruturais, das quais menciono apenas algumas, crónicas e enraízadas ao longo de tantos anos, desembocam na má preparação dos alunos para a ensino superior.
Já as universidades, parecem-me irrevogavelmente afectadas pelos problemas dos ciclos de ensino anteriores e deles não parecem conseguir libertar-se. Aos poucos, o grau de exigência foi decrescendo, em todo o lado é permitido o recurso a subterfúgios de vária índole que atestam a incapacidade de fiscalização do sistema, e os tiques de criancice mal curada saltam à vista em qualquer universidade. Esta é a realidade que de nada adianta escamotear.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sintomático.


Outra vez o velho problema. Numa altura em que já vigora o Tratado de Lisboa, ainda não existe articulação interna nem consenso sobre a aplicação prática das suas disposições. Nada que não se previsse já, mas o facto de Herman Van Rompuy não ter logrado sequer um breve encontro privado com Barack Obama na última Cimeira para a Segurança Nuclear, em Washington, demonstra que o caminho para uma sólida implementação do Tratado está mais longe do que o imaginado. Obama preferiu encontrar-se com Angela Merkel, a toda-poderosa chanceler alemã, que representa um estado, está claramente mandatada para tal, e "make things happen" se assim o entender. Tendo em conta o elevado sentido prático dos americanos, não admira nada que Obama prefira perder tempo com os trabalhos de casa da sua filha mais velha do que cinco minutos com Van Rompuy, que só resultariam em ofuscadas e torpes declarações comuns, e em muitos bocejos do lado de lá do Atlântico.
O acto não caiu bem em Bruxelas, mas é sintomático da incapacidade da UE retirar o devido potencial do Tratado que, com tamanha vontade política pelo meio, tanto pugnou por aprovar. Na altura, os sinais eram positivos, para logo se esbaterem perante a nomeação de um par de figuras "low profile" para os novos cargos. Mais do que as figuras e o seu papel, permanece uma incógnita se a UE a 27 saberá ou conseguirá fazer-se reger efectivamente pelas regras que nele constam, ou se o tempo ditará se foi dado um passo maior do que perna.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Valleys of Neptune.


Muita curiosidade e o caso não era para menos. Valleys of Neptune, contendo uma dose considerável de inéditos e de novas versões não editadas de Jimi Hendrix de 1969, tinha data marcada nos escaparates para 2010, o que desde logo fazia dele um dos álbuns mais aguardados do ano.
Muitos poderão dizer que é mais do mesmo, que Valleys não acrescenta nada de novo à típica sonoridade Hendrix. Da minha parte, pergunto que mal isso tem. O maior prazer retirado de Valleys é precisamente o de constatar vezes sem conta e repetidamente o génio de Hendrix, o seu talento inacreditável, como se a guitarra fosse uma extensão natural do seu corpo. Não pode haver qualquer tipo de desilusão ou desprazer em (re)descobrir uma vez mais o seu incomensurável talento, o seu génio puro, alguém que fez com a guitarra o mesmo que Picasso fez com o pincel, ou Shakespeare com as palavras. Falamos de artistas únicos, cujo dom se confunde ao longo dos tempos com a arte que dominam.
Hendrix é dos poucos predestinados do firmamento artístico que nos fazem acreditar nas possibilidades infinitas da música enquanto processo criativo em evolução, e em constante reinvenção. Valleys é mais uma prova indesmentível disso mesmo. Imperdível.
Em baixo, Bleeding Heart: