O actual chefe do governo belga e a commissária europeia do comércio foram hoje escolhidos, respectivamente, para os recém-criados postos de presidente permanente do Conselho Europeu e de Alto Representante da UE para a Política Externa e Política de Segurança. Herman Van Rompuy e Catherine Ashton são dois rostos que representam nada mais do que um consenso absurdamente minimalista e que não favorece em nada o que se pretendia da União Europeia num momento histórico como poucos desde a assinatura dos tratados de Roma.
O primeiro-ministro belga cessante é conhecido pelo seu estilo low-profile, e apresenta-se como uma figura pouco carismática e desconhecida. O seu papel, como de algum tempo para cá se vinha a suspeitar, será mais institucional do que pró-activo.
Mas se a nomeação de Van Rompuy ainda é justificável à luz do quadro de competências que lhe está atribuído, o pior é mesmo a nomeação da Sra. Ashton: sem qualquer tipo de experiência reconhecida em termos de diplomacia, sem nunca ter ocupado um posto ministerial, e com um background pessoal totalmente diferente do expectável para ocupar um posto daquela envergadura. Apesar de representar um grande país, não terá a presença forte nem o peso político de nomes como Tony Blair, David Miliband ou de um Martti Ahtisaari, este último de longe a melhor escolha.
Ahtisaari representava, em termos pessoais, tudo aquilo que UE pretende ser na arena internacional: uma comunidade política exportadora de valores e de princípios de boa governação e direitos humanos, apologista dos compromissos multilaterais e do respeito pelo Direito Internacional. Era uma personalidade com carisma, muitíssimo experiente, com reconhecidos dotes diplomáticos (na boa tradição nórdica), respeitado internacionalmente pelo seu percurso como enviado especial da ONU às negociações para o estatuto final do Kosovo, pelo importante papel desempenhado na resolução de vários conflitos por todo o mundo, e prémio Nobel da Paz em 2008.
Gorou-se, como muitos analistas acreditam, um momento de excepção para uma definitiva consolidação e expansão do papel da UE nos assuntos internacionais. O Tratado de Lisboa é um passo demasiado aprofundado na integração, e talvez por isso muitos governos não arriscaram em mais mudanças de fundo. É muita mudança para tão pouco tempo. Pena é estarem muitas capitais por esse mundo fora a rir à gargalhada. Não é para menos. Se eu estivesse no Kremlin também me ria. De alívio. Mas ria.
4 comentários:
Ficam bem sao lado do Durão. Todos com o mesmo perfil de idiotas úteis.
Ele tem todos os motivos para estar contente. Já não corre o risco de ser "eclipsado" por um nome forte.
Precisamente. Mas é o único Europeu com motivos para se alegrar.
Não é o único infelizmente. Se aqueles dois foram escolhidos foi porque os governos assim o quiseram. Há coisas que ainda não lhes podem fugir ao controlo. É muita mudança para tão pouco tempo. É a única explicação possível.
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