Longe de Guimarães, dou por mim a reflectir um sem-número de vezes na vontade que tenho em estar no estádio amanhã, dia em que o Vitória disputa um dos mais interessantes jogos da época. Não posso naturalmente, mas vou torcer avidamente à distância, sabendo de antemão que vou ter o coração a bater duplamente depressa durante 90 minutos.
Já na ânsia pelo desafio, reflicto naqueles bons velhos anos em que ficar à frente do Braga era absolutamente banal, um dado quase adquirido, poucas vezes interrompido. Lembro-me, ao longo dos idos de 90, de não se falar em rivalidade como se fala hoje. O mundo vitoriano, rotinado a vencer o rival, bocejava quando o assunto era jogar com ele. Lembro-me de não ser conversa recorrente a comparação entre os dois clubes, pois tal era simplesmente disparatado, tal a diferença de dimensão. O Braga era confortavelmente relegado para segundo plano pelos vitorianos, sempre confiantes no triunfo.
Ganhar ao Braga era rotineiro, uma tarefa enfadonha cumprida com dever de missão - uma terapia sazonal para os vitorianos. Ganhar ao Braga era um desporto municipal; o mestre a ensinar ao aprendiz como se faz, com repetidas demonstrações de pura grandeza. O Vitória ganhava ao Braga porque, como acontece na Mãe Natureza, o mais forte dita a lei e sobrepõe-se ao mais fraco. Saudosos tempos em que o Vitória fazia de Astérix, esmurrando consecutivamente os de Bracara Augusta, com arraiais sistemáticos de golos, para nosso deleite e para resignação alheia.
Agora pergunto: e hoje? Que se passa com um clube que recebe o Braga e parece encolher-se, amedrontado, fugidio face ao vizinho que sempre lhe foi, e continua a ser, inferior? Inferior em adeptos, inferior no fervor clubístico, inferior no historial, inferior no simbolismo, inferior na paixão e na união? Que receio se pode ter face a um clube inferior a todos os níveis? O Vitória nunca, mas nunca se pode acanhar contra o Braga, sob pena de perder o estatuto que detém actualmente perante o panorama futebolístico português e perante o próprio país, de resto seu por direito.
Mesmo em crise directiva - mais do que directiva, estrutural - o Vitória como instituição, como clube de dimensão incomparavelmente superior, não pode nunca recear um clube como o Braga. É nestes momentos, ainda que cirúrgicos, que o Vitória tem de relembrar ao seu vizinho rebelde quem é maior. Tem de se agigantar com naturalidade, dando vazão ao estipulado pela Mãe Natureza: os mais fortes vencem naturalmente os mais fracos.
Vamos cumprir a nossa função! Lembrai-vos de quem ostenta o Rei na camisola! A eles Vitória, sem tréguas! Viva Guimarães!! Viva o nosso Vitória!!
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