segunda-feira, 5 de março de 2012

Beginners (2011).


“You are only two years older than me, darling, where have you been all my life??” Foi desta forma que Christopher Plummer, do alto dos seus 82 anos, reagiu à entrega do Óscar de melhor actor secundário para gáudio da plateia, que lhe dedicaria um sentido e prestimoso (e merecido) aplauso. Plummer chega finalmente à almejada estatueta dourada, aquela que tantas vezes foge aos mais ilustres, pela sua prestação em Assim é o Amor, de Mike Mills, onde contracena com Ewan McGregor e a francesa Mélanie Laurent. É a consagração de um grande senhor do cinema.
Não fosse o prémio para este veterano actor, e talvez este fantástico filme passasse completamente ao lado do público português. Continua a ser lamentável que filmes assim não sejam alvo de uma maior e mais equitativa distribuição pelas salas de cinema portuguesas.
Plummer é Hal, pai de Oliver (Ewan McGregor), do qual nunca foi próximo. Viúvo, sente necessidade de revelar a Oliver a sua homossexualidade, reprimida ao longo de 44 anos de casamento. A confidência tem o inesperado efeito de aproximar pai e filho, e serve de mote para que Oliver encete uma viagem interior de auto-descoberta que o vai levar a quebrar barreiras e a redefinir o é para si o amor.
Beginners – título original que alude às novas experiências em torno do amor que aguardam os personagens – destaca-se, acima de tudo, pela sua enorme honestidade. É um filme sem subterfúgios, daqueles que desde os primeiros minutos pegam no espectador ao colo para não mais o largarem até final. Assim é o Amor não tem outra pretensão que não a de celebrar o sentimento que faz de nós aquilo que somos, seres humanos com defeitos e virtudes, e afinal o único capaz de obliterar a perspectiva da nossa própria finitude e de conferir um sentido à nossa passagem por este mundo. Especialmente quando retrata um romance homossexual de um octogenário “saído do armário”. Assim é o Amor relembra-nos, oportunamente, as múltiplas formas e manifestações que o amor pode assumir, e o que podemos apreender das vivências daqueles que nos são mais próximos. O filme de Mills – semi-autobiográfico como o próprio admitiu – tem o grande mérito de captar com a alvura necessária os desafios psicológicos advindos do amor: a homossexualidade de Hal faz com que Oliver reflicta no percurso de vida da sua mãe e na relação que esta estabelecera consigo, à qual vai atribuindo novos significados.
Por fim, o filme não deixa de beneficiar das magníficas interpretações de Plummer, McGregor e Mélanie Laurent, esta última irradiando um brilho a que é impossível ficar indiferente, e que disputa a atenção e a reverência do espectador com as fabulosas aparições de Arthur, o Jack Russell de Oliver, um cão apegado ao dono que não fala mas cujos mordazes pensamentos perpassam para a tela, colocando a cereja no topo do bolo neste Assim é o Amor.