segunda-feira, 27 de abril de 2009

"Era de Agitação".

Fiquei positivamente surpreendido com a imprensa generalista nacional, ao ver que nesta semana o Expresso entrevistara o conceituadíssimo Niall Ferguson, uma das mais bem-pensantes cabeças da actualidade. Geralmente, não ligo em demasia aos arautos da desgraça, muito menos quando esses mesmos escrevem nos jornais sobre tudo e mais alguma coisa, como se tudo e mais alguma coisa fosse realmente a sua especialidade. No entanto, venho com alguma apreensão a verificar que cada vez mais gente com créditos firmados, pensadores, politólogos e personalidades mundiais de elevada temperança vêm a traçar um futuro negro para a estabilidade política e social no quadro global.
Diz Ferguson, nas entrelinhas, que a crise económica não poderá servir de escudo à acção que o mundo livre deverá desempenhar nos tempos que se avizinham. Da acção (ou inacção) da Europa ocidental e dos EUA dependerá a paz mundial, provavelmente a breve trecho. Junte-se às renovadas ambições regionais da China e da Rússia, as ambição nucleares do Irão, compreensíveis mas inexequíveis. Reside aqui a grande questão dos tempos vindouros: Israel jamais o permitirá. Já tive oportunidade de discernir sobre este tema noutro âmbito, e parece que não me enganei. Está provado por A + B que Israel usará todos os meios à sua disposição para impedir o Irão de obter a arma. Quando Obama faz a apologia de um mundo sem armas nucleares, é bom que fale a sério, pois os custos do bluff serão incomportáveis.

Up.

Up, a anunciada nova aposta da Pixar para este ano, está aos poucos a fazer descansar quem ainda por pouco que seja duvidasse do poder de sedução e de originalidade do estúdio californiano. De acordo com John Lasseter, o seu muito meritório CEO, Up é o filme mais cómico que o estúdio já realizou até hoje. A avaliar pelo segundo trailer disponível, tal parece não divergir muito da realidade. Desta vez, a suculenta bizarria da Pixar vai ao ponto de pôr um septuagenário a atar 10000 balões ao telhado de sua casa e a viajar para a América do Sul. A acompanhá-lo, a mais improvável das personagens: um rapazola a quem nada sai bem. Promete. Afinal de contas, a bizarria das história é parte do charme e do encanto planetário da Pixar.
Uma palavra ainda para Partly Cloudy, a curta-metragem que acompanhará Up nas salas de cinema, e que tenta responder à pergunta: onde vão as cegonhas buscar os bebés?
Porque ano sem Pixar...já não é ano.


domingo, 26 de abril de 2009

O Pianista (2002).


A partir de uma história verídica (quão bem sabem as histórias verídicas), O Pianista retrata a história de Wladyslaw Szpilman, pianista talentoso de uma das cidades mais martirizadas da II Guerra Mundial, Varsóvia. O filme conta a ziguezagueante vida de Szpilman por entre um mundo que colapsa à sua volta; por entre bombas, por entre a miséria humana, e por entre uma felicidade quase estratosférica que o acompanha em momentos cruciais.
A história do pianista é também de certo modo a história da cidade, senão mesmo da própria Polónia: traído, apanhado por uma guerra que pouco ou nada lhe diz respeito, indefeso face às circunstâncias. O Pianista é, portanto, a fatalidade de um homem e do seu país, forçados a vergarem-se à mais dura das tarefas em tempo de guerra, a sobrevivência. Através dos seu olhos, o filme testemunha a derrocada do povo judeu na Polónia, da sua redução a quase nada, do seu destino trágico e, finalmente, do recuperar de uma dignidade afinal de contas nunca beliscada.
Por tudo isto, O Pianista é um documento histórico. Não julga nada nem ninguém. Relata os factos à distância do olhar de Szpilman, mais do que suficiente para não acometer o espectador a dados quaisquer ilusórios, fazendo-o abrir um autêntico livro de História. A veracidade dos acontecimentos assim o dita, e seria pernicioso apontar fosse o que fosse à abordagem seguida por Polanski, afinal tão real e singela como a música de Chopin que instigou Szpilman a viver.
O Pianista é, até hoje, uma das súmulas por excelência da tragédia que se abateu sobre um povo há 60 anos atrás em plena Europa civilizada. Sem subterfúgios, sem aditivos, O Pianista conjuga primorosas interpretações com a triste carga dramática do momento.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Fleet Foxes (2008).


Há uma pequena maravilha no incomensurável mundo musical ainda não devidamente laureada com os devidos méritos. Fleet Foxes, com álbum homónimo, parecem retorcer a canção tradicional e dela retirar a sua semente, o seu esqueleto. As canções dos Fleet Foxes não são estranhas a quem as ouve. Parece que estiveram sempre no ouvido, sem todavia nunca as termos ouvido.
Fleet Foxes é uma inversão de marcha no tempo até aos primórdios da pop que nunca existiram; é a criança grande sobredotada a quem já ninguém ensina nada. Fleet Foxes são exactamente isso: um fenómeno. A pureza requintada do álbum não se fica pelas aconchegantes melodias. Toda a temática envolvente é de um lirismo enternecedor que faz com que tudo nas canções sobressaia sem esforço, sem mácula. Pássaros, montanha, família, morte, vida. Nada de mais, mas mais não seria necessário.
Tiger Mountain Peasant Song foi a escolhida para encabeçar o estonteante desfile melódico que é Fleet Foxes, embora qualquer uma das outras pudesse receber esse epíteto. Das mais ritmadas como Ragged Wood, até às mais sombrias como Heard Them Stirring, Fleet Foxes é desconcertante para todos os sentidos do corpo. A voz de Robin Pecknold é um bálsamo para os ouvidos, atingindo o pico da grandeza na estoteante Your Protector.
Se a tudo isto se juntar o segundo disco da edição portuguesa, vemos que lá se incluem quase todas as entradas do EP lançado antes do álbum, e das quais se destacam English House e uma versão de Mykonos, um canção portentosa soft-rock para ouvir de sorriso estampado na cara.
O mar acústico que é todo o álbum, entrelaçado com harmónicos coros e uma guitarra do outro mundo (Dylan à espreita) faz de Fleet Foxes e da sua estreia um marco em absoluto e uma retumbante vitória, deixando qualquer desprevenido ouvinte ávido por mais.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Antecipado Desastre de 7 de Junho.


A eleições europeias de 7 de Junho próximo, como todas as que a antecederam, são encaradas internamente como um "barómetro" para as eleições legislativas. Já não bastava o acto eleitoral para o Parlamento Europeu (PE) não captar, tradicionalmente, a atenção dos portugueses, tinha ainda de calhar num ano cravejado de eleições. Azar para o país, azar também para a visibilidade e para o grau de legitimidade que o PE pretende ter no espaço geográfico que co-legisla.
Mais uma vez, os portugueses aparecem nas estatísticas como os menos interessados por estas eleições, não se apercebendo que as matérias que lá se discutem são não raras vezes bem mais relevantes para o seu quotidiano do que as discutidas na nossa tão querida Assembleia da República. Na verdade, desde 1979 - ano em que pela primeira vez este órgão foi alvo de eleição directa - o número de domínios legislativos aos quais se aplica o processo de co-decisão (entre o Conselho e o PE sobre iniciativa da Comissão) aumentou de 15 para 37. Se o Tratado de Lisboa entrar em vigor, o número aumentará para nada menos que 90.
Para bem da transparência de processos, a tendência para o reforço do papel do PE é manifestamente positiva para a imagem da União no seio das sociedades civis nacionais. Seria bom que em países periféricos como Portugal fosse desencadeada uma iniciativa de informação em larga escala de modo a clarificar aquilo para que as pessoas estão realmente a votar. O PE é o fórum por excelência de discussão do dia-a-dia da Europa comunitária, papel que em tempos de crise económica e financeira internacional generalizada como os que vivemos, deveria ser reforçado e cimentado nos níveis inferiores de poder, fazendo-o chegar ao cidadão comum.
Enquanto isto, a abstenção em Junho será assustadora, e assistiremos a um debate de fraquíssima qualidade, pouco esclarecedor, retórico, e que nada abona em favor do papel da Europa em Portugal e, mais importante para nós, no papel que Portugal poderá ter na Europa.

domingo, 19 de abril de 2009

Mais Um Ano, Mais Desilusões.

A época desportiva da equipa sénior de futebol do Vitória acabou ontem. Este clube continua a marcar passo ano após ano. Ano após ano as desculpas são diferentes. Ano após ano aos adeptos é-lhes pedido para esperar. Ano após ano, este clube é uma desilusão.
Já não falava neste espaço do Vitória há uns tempos; mas tendo a época acabado ontem, é altura de tecer alguns desabafos. O primeiro tem a ver com a incapacidade da equipa de manter um resultado favorável. É desesperante assistir a um triste espectáculo onde uma vez em vantagem, o Vitória não tem o mínimo de capacidade para marcar mais golos de modo a garantir uma vitória clara e confortável - para si e para os adeptos nas bancadas. Os jogos não acabam aos 56 minutos, nem aos 70, nem aos 80, nem aos 90. Acabam quando árbitro apita. Até lá a equipa está obrigada a jogar como se estivesse a perder. Caso contrário, dá em derrota. Geralmente justa. Foi o caso do último jogo com Sporting, com o jogo anterior em Paços, e com o Porto. Esta é uma atitude de uma equipa medíocre e que não merece ir à UEFA. Dói-me o coração dizer isto, mas é a mais pura das realidades.
Em segundo lugar, é altura também de ser absolutamente claro. Há jogadores nesta equipa que não têm qualidade para vestir esta camisola. Os muitos milhares de abençoados adeptos estão fartos de mediocridade. Fartos de oscilações incompreensíveis, fartos de sofrer em todos os jogos. Ávidos por troféus. Sou dos que acha que uma equipa tem que o mínimo de estabilidade de um ano para outro. Infelizmente, a estabilidade de que a equipa necessitava este ano não foi tida em conta. Vieram jogadores de qualidade duvidosa, a juntar a outros que há muito deviam ter saído. O Vitória é uma equipa remendada, com um punhado de jogadores de qualidade.
Posto isto, e para bem do futebol do Vitória e da sanidade mental dos adeptos na próxima época, eis os senhores jogadores a quem deveria, a meu ver, ser apontada imediatamente a porta da saída:
Grégory
Luís Filipe
Milhazes
Lionn
Andrezinho (ou joga noutra posição ou sai)
Fajardo
João Alves
Carlitos
Até ao final da época, porque não ir pondo alguns juniores a jogar? O clube nada tem a perder. Pelo que tenho visto, muitos deles farão com certeza melhor figura do que qualquer destes acima citados.
Para a próxima época, e já que se aguarda o melhor exercício financeiro da história do clube, é bom que se invista em jogadores a sério, capazes de dar alegrias. Caso contrário, será sempre a mesma velha e deprimente história.

sábado, 18 de abril de 2009

Podridão Bacoca.

Talvez por estarmos em Abril, mês onde até o ar cheira a liberdade, os Xutos e Pontapés fizeram questão de usar a política para dizerem ao país musical (e ao país político também mas que foi usado para tal) um grande: "sim ainda existimos, sim ainda estamos vivos, por isso olhem um pouco para nós se faz favor".
É muito mau. Estamos a voltar ao tempo em que era preciso socorrer-se de uma música para protestar contra o Governo. Este tipo de intervencionismo soa mal hoje em dia. É uma forma cinzenta de protesto, amorfa, gasta, sensaborona. Não faz mover. Soa a aproveitamento piroso das circunstâncias. É roto. É super-mega-hiper-pretensioso, falso. Vem de um grupejo ultrapassado com bastante dinheiro nos bolsos, não de alguém letrado e realmente compelido e talhado para o intervencionismo artístico na política.
Pobre Zeca, deve estar a dar voltas na tumba. No seu tempo a sua música adaptava-se às circunstâncias e, ao mesmo tempo, era bela e maravilhosa por si só. Era pensada, subtil. O que esta banda fez é de uma rasquidão de todo o tamanho. Não diz a cara com a careta, e assenta-lhes muito mal. Só pode ser visto como um pedido de socorro que atesta a já difícil de esconder decadência da banda. Grotesco.
Ai Zeca, Zeca...nem queiras ver. Muito menos ouvir.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Munique (2005).


O ódio visto pela lente de Spielberg. Na verdade, a temática não é não é nova no realizador, sendo já vários os exemplos onde Spielberg faz questão de passar para o cinema algo que lhe é caro, e que tem sobretudo a ver com a má condição das vivências humanas, com o ódio politico, étnico ou religioso, com a exploração do homem pelo homem, e com a eterna demanda pela liberdade. Amistad, O Império do Sol, A Lista de Schindler, O Resgaste do Soldado Ryan, e até mesmo Terminal de Aeroporto, são exemplos de uma das grandes e mais reconhecidas facetas do famoso realizador norte-americano.
Munique é mais um exemplo de uma reconstituição histórica destinada a homenagear directamente quem sofre(u) com o ódio, na pelo de quem foi impiedosamente vítima da propagação deste. Munique, pese embora não desdiga obras anteriores, é contudo um registo que não foca somente o sofrimento. Em Munique, o sofrimento pelo ódio está lá, mas a tónica essencial do filme reside na vingança crua e implacável movida sem sentimentalismos e sem porquês. Munique não culpa nem desculpa ninguém; como o próprio Spielberg o disse, o filme "não procura culpados".
Tendo como ponto de partida o ataque movido pela Setembro Negro à comitiva israelita aos Jogos de Munique em 1972, o filme conta a história do ajuste de contas levado a cabo pelo governo de Golda Meir contra os idealizadores do golpe. Um por um, os cérebros do golpe vão sendo fria e inescrupulosamente eliminados pelo grupo escolhido (mas não oficializado) pelo governo israelita.
No meio do "olho por olho, dente por dente", há afinal lugar para moralidade e para equidade? Se há, qual? O filme parece responder que dificilmente a violência terá fim enquanto o ódio estiver tamanhamente enraizado dos dois lados da barricada; enquanto o ódio cego se basear na secularidade do ódio e não se começar verdadeiramente a pensar num futuro para árabes e israeltas. Munique é assim um valioso e surpreendente raciocínio sobre as acções humanas, e sobre a ténue fronteira que separa (separará neste caso?) identidade de fundamentalismo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Filadélfia (1993).


Filadélfia é um caso peculiar na história do cinema. Embora os haja, não de todo fácil encontrar nos anais do cinema objectos que, mais do que filmes, sejam verdadeiras fotografias de eras em transição. Filadélfia é um deles.
Até aos inícios da década de 90, praticamente não havia quem em Hollywood tivesse ousado quebrar um dos últimos tabus preconceituosos do século e retratar o tema da SIDA – mais tarde reavivado por Mike Nichols na fabulosa mini-série da HBO Anjos na América. Foi o que fez Jonathan Demme, dois anos depois do muito aplaudido Silêncio dos Inocentes.
O filme de Demme deu a Tom Hanks o seu primeiro Óscar de melhor actor, num registo em que demonstrou definitivamente a sua versatilidade. Hanks interpreta Andrew Beckett, um jovem advogado promissor que é alegadamente despedido por incompetência, sabendo contudo que o verdadeiro motivo da dispensa é o facto de ser homossexual e de ter contraído SIDA. Beckett decide processar a firma e, depois de procurar os serviços de inúmeros advogados que rejeitam o seu caso, encontra em Joe Miller – um brilhante Denzel Washington – o seu defensor. Em suma, poder e dinheiro contra…pessoas.
O filme é pródigo em cenas tocantes, e mantém constante uma desconcertante toada de intervenção social para o problema do preconceito injustificado, perante a ignorância que a maior parte das vezes consegue vencer a bondade inata e o bom senso. Destaque para o momento em que Miller, após ter rejeitado a defesa a Beckett, o vê sentado solitariamente num recanto de biblioteca a preparar a sua própria defesa. Esta cena é nada menos do que o propósito do filme: fazer o espectador inflectir-se à realidade, fazê-lo retirar a cobarde máscara que ele próprio coloca de modo a não ver o que o rodeia. Filadélfia é um filme tocante e um alerta social intemporal que, pelo carácter vanguardista que teve e pela fortíssima mensagem que lhe está inerente, é indicado para todos sem excepção. E sem preconceitos.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Obrigado Senhores.


A Volta ao Mundo parece ter gostado das palavras que há dias dediquei à Big Apple e, como tal, escolheu a respectiva missiva como vencedora da edição de Março. Como se pode ver, pude escolher dois guias de viagem (ui que sorte...), e tendo eu escolhido Paris e Londres, quem tiver ou vier a ter planeada alguma deslocação a estas duas belas capitais, pode sempre pedir-mo(s) emprestado(s). Será um prazer. Por agora, o meu obrigado aos simpáticos senhores da Volta ao Mundo.


P.S.: Da próxima vez, seria pedir muito uma viagem a sério?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Dylan por Bono.


Dylan fez com a canção o que Brando fez com a representação. Rompeu o artifício para chegar à arte. Ambos deitaram abaixo as regras rígidas estabelecidas pelos professores do seu ofício, chegaram junto do público e disseram: «Desafio-te a pensares que estou a brincar».

Bono Vox, Blitz nº34, pág.44 (Abril 2009).

domingo, 12 de abril de 2009

Mais Uma! Parabéns!

Mais uma conquista para o voleibol do Vitória. É com enorme orgulho e satisfação que vejo o clube a engordar uma bem precisada sala de troféus mesmo que através de modalidades extra-futebol. A festa foi enorme, bem comemorada, plena de emoção, mas com muitos sorrisos no final. É belo aos olhos de qualquer vitoriano ver uma sua equipa ganhar.
Valha-nos o voleibol. É a prova provada do que este clube poderia (deveria) fazer noutras andanças; vulgo noutras modalidades, vulgo futebol. Sem querer de maneira nenhuma misturar as duas relidades, muito menos retirar mérito a quem dá alegrias a este clube, a verdade é que não posso deixar de imaginar o que não seria se estes meravilhosos adeptos pudessem algum dia serem presenteados com uma Taça de Portugal em futebol, ou mesmo - porque não dizê-lo? - com um Campeonato Nacional.
Até lá, viva o voleibol! Por agora, o maior motivo de orgulho deste clube e desta cidade.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Arte.

O cinema fica mais belo, mais poderoso quando uma dada música encaixa com divina perfeição numa determinada cena. Como se aquelas cenas jamais pudessem ser concebidas sem aquela música. Cinema e música, uma complementaridade da qual ainda poucos realizadores conseguem tirar o devido partido. Cinema e música, quando são uma e uma só, fazem estremecer as profundezas dos sentidos.
Um desses casos acontece no fabuloso Donnie Darko, filme que atirou Jake Gyllenhaal e a sua mui sensual mana para a ribalta. O seu final é absolutamente soberbo, muito por culpa da sequência de cenas aliada à melodia de Gary Jules, que adaptou lindamente esta Mad World, dos Tears for Fears. Sublime.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Plastic Fang (2002).


Há exactamente sete (!) anos, Jon Spencer e a sua trupe editavam Plastic Fang, o oitavo registo dos nova-iorquinos. É impossível rotular seja de que maneira for o que Jon e os compinchas fazem. Groove, punk, rock, blues, indie? Tudo? Nada daquilo? É complicado. Apenas uma coisa é certa: it's damn good!
Há sete (!) anos também, um indivíduo douto nestas andanças chamou-me entusiasmado para escutar por breves momentos um certo som que saía de uns auscultadores na Worten (infelizmente, sitos algures entre Toy e Mónica Sintra). Esse som era Jon Spencer e o indivíduo em questão happened to be my cousin. E estava feito: meio minuto depois, Jon e a respectiva comandita ganhavam dois fãs do outro lado do mar. Obrigado meu.
Grande voz, enormes guitarras a rasgar o limite. Som "abluesado" pelo meio, uma estrada musical feita de lampejos inescedíveis, uma sensação de energias inesgotável, impiedosa e furiosamente dinamitada. Mas o que é isto? Que som saído dos confins dos amplificadores é este que cola imediatamente ao mais desprevenido e ao mais sabichão dos ouvidos? Blues Explosion é a democratização do rock, é blues lançado às feras da corrente eléctrica, é descarregar emoções acumuladas em plena noite de trovões. É um go fuck yourself às convenções. Não devia ser assim toda a música?

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Nuclearmente Falando.

O debate acerca da introdução da energia nuclear em Portugal já não é recente, mas reacendeu-se por estes dias com o anúncio da formação da Associação para a Divulgação da Energia Nuclear (ADN). Entre os fundadores da ADN encontram-se personalidades nacionais de renome do mundo da ciência, que pretendem dar um contributo construtivo para uma questão cada vez mais premente hoje em dia no nosso país.
Não é mais possível ignorar, num país como este, que importamos cerca de 20% da electricidade que consumimos de países como Espanha e França, a qual provém precisamente de fonte...nuclear. Não faz sentido algum prolongar um tabu que tem durado décadas, como se este tipo de energia representasse o advento incontornável de acidentes nucleares e de criancinhas moribundas para o resto da vida. A energia nuclear não coloca em causa a aposta do país em energias renováveis, e muito menos acarreta os riscos e as interrogações que levantava há décadas atrás. Está hoje provado que a opção nuclear é tecnicamente segura, e tem um baixíssimo nível de emissão de CO2 para a atmosfera, o que significa que é uma energia globalmente limpa e que vem por isso, desde logo, de encontro às preocupações do momento em matéria ambiental.
Como tal, creio que a necessidade urgente de evitar a dependência do petróleo e do carvão, aliada ao inevitável aumento do consumo de energia eléctrica são bons motivos para que Portugal acmpanhe a tendência internacional de retoma da produção deste tipo de energia. Países como a Suécia, o Reino Unido e outros estão a ponderar a construção de novas centrais e Portugal devia considerar seriamente a hipótese de construir uma sua. Devemos ter a nossa central e continuar a aposta nas renováveis. Seria mais uma fonte investimento (provavelmente privado), e um factor de criação de novos postos de trabalho.
Sei que em ano de eleições é impossível, mas espero que o próximo Governo (socialista) o coloque este na sua agenda legislativa. Mais não seja, acredito que o debate merece ter lugar. Sem preconceitos nem juízos pré-concebidos - muito menos daqueles que emanam de argumentos estupida e ignorantemente politizados e nada sérios, que não poucas vezes dão à tona em praça pública.

domingo, 5 de abril de 2009

Para Abrir o Apetite...


Inglorious Basterds já está anunciado há algum tempo. Mas não é daqueles filmes que sai de uma vez; nada disso. Inglorious Basterds vai saindo aos bocados. Qualquer resquício de novidade surgido sobre o filme é tratado à lupa e revirado, qual bomba noticiosa.
A foto acima, saída da objectiva da Vanity Fair, é visualmente deliciosa e mostra os grandes protagonistas da obra mais esperada do ano, pela qual legiões de indefectíveis fanáticos se espumam e retorcem à espera de mais uma imagem, de mais uma curiosidade, de mais um trailer que mostre só um bocadinho mais da nova aventura de Tarantino. A 27 de Agosto próximo dissipam-se todas as dúvidas.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Grupo dos Vinte.


A cimeira do G-20, que amanhã dia 2 começa em Londres, pode muito bem ser a reunião de líderes mundiais mais relevante do ano. Vários actores de primeira proa do sistema internacional levam na bagagem propostas para reformular o sistema financeiro mundial. Infelizmente, muitas delas são pouco ou nada coincidentes entre si. A reunião do G-20 pode ser a alavanca necessária para um real e duradouro entendimento à escala global, ou pode saldar-se num dos maiores fiascos que há memória.
A ténue fronteira entre o sucesso e o fracasso da cimeira advém da diferença de opiniões e de estratégias a seguir para o combate à actual crise, defendidas pelos actores envolvidos. Os EUA têm apostado num plano de injecção de capital na economia, ao contrário do defendido pela Rússia e pela União Europeia. Mesmo assim, economistas como Paul Krugman dizem que os montantes em causa não são ainda suficientes. Pelo meio, a presidência do Conselho da União chegou mesmo a acusar os EUA de estarem a acalentar um novo proteccionismo. Rússia e UE insistem na prioridade a dar à reforma das maiores instituições financeiras mundiais, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
A chave para uma abertura no diálogo pode residir no papel negocial da Grã-Bretanha, que se declarou abertamente empenhada em construir um consenso alargado e de ser o motor do mesmo. Londres propõe, entre outras medidas, a criação de uma nova instituição financeira global que detecte preventivamente os riscos de ocorrência de novas crises.
Não é menos verdade, contudo, que desenhar um novo New Deal parece hoje tarefa bem mais complicada. A solução conjunta para grandes problemas globais é facilitada pela existência de lideranças fortes, carismáticas e que sejam capazes de emanar confiança aos restantes agentes sociais. O panorama contemporâneo, a esse nível, não é satisfatório. É hoje mais difícil aglutinar interesses no seio das lideranças políticas, muitas vezes por culpa própria. Obama, Medvedev e Sarkozy são líderes jovens, mas com muito ainda para trilhar. A estrada continua sinuosa e cheia de obstáculos.