quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pessoa Malcriado.


(...)
Está claro
Que isso tudo
É desse pulha austero e raro
Que, em virtude de muito estudo,
E de outras feias coisas mais
É hoje presidente do conselho,
Chefe de internormas animais,
E astro de um estado novo muito velho.

Que quadra
Isso com qualquer espécie de graça?
Nada.
A Igreja Católica ladra
E a Maçonaria passa.

E eles todos a passar
Na vitória que os uniu
Neste nada que se viu,
Dizem, lá se conseguiu,
Para onde agora avançar?
Olhem, vão pró Salazar
Que é a puta que os pariu.

Em 1935, já com Salazar plenamente instalado em São Bento, havia um certo poeta bem conhecido de todos que vociferava contra o ditador beirão. Trata-se do caríssimo Pessoa, que nesses idos de 35 não parou de o achincalhar. O poeta até começou por receber bem o golpe do 28 de Maio, para não muito tempo depois se desgostar com o caminho seguido pelo regime, em especial pela escolha da figura do discreto professor para chefiar o governo.
Afinal, também os poetas se têm direito a chatear.

sábado, 24 de janeiro de 2009

The Strange Case of Dr. Jekyll & Mr. Hyde.


He put the glass to his lips and drank at one gulp. A cry followed; he reeled, staggered, clutched at the table and held on, staring with injected eyes, gasping with open mouth; and as I looked there came, I thought, a change - he seemed to swell - his face became suddenly black and the features seemed to melt and alter--and the next moment, I had sprung to my feet and leaped back against the wall, my arms raised to shield me from that prodigy, my mind submerged in terror.
"O God!" I screamed, and "O God!" again and again; for there before my eyes - pale and shaken, and half fainting, and groping before him with his hands, like a man restored from death - there stood Henry Jekyll!

A vontade que tenho em ler e saborear contos sobejamente conhecidos da literatura universal é pouco menos que uma constante, mau grado a habitual falta de tempo e cabeça infelizmente comuns à maioria das pessoas activas. Mas o forcing foi feito e consegui por fim pôr cobro à minha curiosidade em mergulhar no conto de Robert Louis Stevenson, Dr. Jekyll & Mr. Hyde.
Curiosidade, diga-se, é a tónica do conto a cada página. Apesar do desfecho, por senso comum sabido de antemão, a verdade é que nem por isso o leitor deixa de ser surpreendido. Jekyll & Hyde junta ao ambiente noir da história uma tragigidade típica dos mistérios Vitorianos, uma espécie de golden era deste tipo de novelas.
Monstruosidades à parte, o livro é pródigo no foco em temas universais e marcadamente humanos. O humanismo do conto conflui na duplicidade do bom Jekyll, homem socialmente prezado e respeitado, mas cuja natureza não o deixa evitar o seu lado obcuro - algo impensável de assumir no seu meio. O conto patenteia a fragilidade do ser humano, a sua parmeabilidade ao mal e à supressão de vontades pautadas por necessidades emocionais latentes, transversais ao ser humano. Em suma, a supressão do biológico pela moral, contornada por uma inata dualidade.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Uma Imagem de Esperança.


Porque do sucesso deste homem depende muito do futuro deste mundo. Haja fé na mudança.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Estiveste Quase Lá, Fincher.


A história de um homem nascido “sob circunstâncias muito pouco usuais” é, por si só, um ponto de partida interessantíssimo. Acrescido do nome de David Fincher ainda o é mais, e se a dupla de protagonistas incluir dois gurus como Brad Pitt e Cate Blanchett a expectativa gerada torna-se compulsiva. The Curious Case of Banjamin Button entrecruza o curso normal do tempo com a vida em rewind de um ser que parece ter sido amaldiçoado desde o início. A viajem do bebé velho Benjamin por múltiplos espaços e vivências é suscitada por uma juventude psicologicamente confusa, por um enquadramento social nem sempre fácil para o próprio nem para os que amavelmente o aceitaram nas suas vidas, e pela consciência de uma finitude previamente conhecida.
Há, sem dúvida, mestria na obra de Fincher. Nota-se a ambição do projecto e é sobretudo notório um vívido e intenso desejo de quebrar barreiras. Mas The Curious Case… não convence totalmente. A linha temporal é salpicada por vários episódios de relevo, designadamente os vividos através da aventura marítima no ‘Chelsea’, rebocador onde Benjamin passa uma importante parte do seu tempo e talvez a maior testemunha do seu (de)crescimento. Aqui, ênfase para o adultério em Murmansk com Tida Swinton e para a relação muito peculiar com o seu capitão (diga-se, que grande referência a Forrest Gump trazida por Eric Roth).
Aliar um espantoso trabalho de caracterização que envolveu a mais alta tecnologia e muitas dezenas de profissionais a uma história sinuosa mas cativante é o maior triunfo de Fincher. No entanto, no melhor pano cai a nódoa, e a verdade é que nem a fantástica química entre Pitt e Blanchett apaga o arrastamento por vezes penoso da história durante uma boa parte da segunda parte do filme. A relação entre os dois é, em muitos momentos, ultra-explorada sem necessidade. A intenção de mostrar um amor intemporal, procurando alhear-se das vicissitudes de uma vida a andar para trás, foi conseguida, todavia exageradamente. Esticar a complexidade inata do conto de Fitzgerald por via da história de amor, faz o filme perder algum do fulgor inicial e retira-lhe o possível estatuto de obra-prima. E nestas, é sabido, nada mas rigorosamente nada pode soar a forçado.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Tombstone Blues.

Marcus Carl Franklin e Richie Heavens ou, se quisermos, o encontro entre o novo e o velho numa demonstração preciosa e genuína da música americana. Esta é uma das muitas performances de encher o olho (e os ouvidos) encontradas em I'm Not There, filme de Todd Haynes em torno das múltiplas facetas de Bob Dylan. Woody, Billy, Jude, Robbie ou simplesmente Dylan. Porque Dylan não é uno, é um desdobramento contínuo de vivências, formas de arte e sonoridades. Dylan é único, é inimitável. O som que segue é eterno.


domingo, 11 de janeiro de 2009

Um Regresso de Saudar.


Os tempos que se seguem serão pródigos em filmes com a II Guerra Mundial como pano de fundo. O ano de 2009 traz consigo películas como Defiance, The Reader, Good, The Boy in the the Striped Pajamas, Valkyrie e, lá mais para a frente, o muitíssimo aguardado Inglorious Basterds, a nova aventura de Tarantino. O interesse de Hollywood é assinalável, pois há já muito tempo que não se viam tantos filmes seguidos focalizados naquele acontecimento. O interesse fica provado pelo nível dos actores envolvidos: respectivamente, Daniel Craig, Kate Winslet, Viggo Mortensen, Vera Farmiga, Tom Cruise e...Brad Pitt. Tanto filme sobre uma temática sempre apaixonante como a II Guerra, com tantos e tão bons intervenientes, faz abrir o apetite para os tempos mais próximos. Não deixa de ser reconfortante que no meio de muito filme que apenas vive de efeitos especiais e de outros ornamentos sem significado, Hollywood é sensível à necessidade de mostrar outro tipo de histórias, voltadas para um classicismo moral que hoje em dia começa a fazer falta.


P.S.: Não que Tarantino seja propriamente um moralista...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Young Mr. Lincoln.


Em 1939, John Ford dava início à sua longa e frutífera colaboração com Henry Fonda através de uma história centrada nos tempos de juventude de Abraham Lincoln, então um jovem letrado que optara pela advocacia. O filme é uma peça valiosa do cinema americano clássico e da própria "americanidade" enquanto valor artístico. Além da magnifica presença de Fonda, Ford inaugura uma nova forma de filmar, colocando as personagens no centro de uma vasta área de terreno circundante, focalizando-se nos seus contrastes. Eisesntein disse um dia que este era o filme que gostaria de ter realizado.
Young Mr. Lincoln é cativante pela forma, mas especialmente pelo conteúdo. Trata-se de uma história de justiça, bela por si só, onde as palavras surgem só como complemento, pois é como se tudo já estivesse dito. A ascensão de Lincoln fora já o corolário daquilo que ele representava à época: uma garantia de sobriedade a nível dos valores, capaz de se fazer destacar como símbolo social numa América ainda à procura de si mesma e dos seus ideais. Para tal, Lincoln impõe ordem e justiça a um ambiente incendiado por um assassínio. No final, o jovem Lincoln foi capaz de devolver à liberdade um par de inocentes e desmascarar o culpado, chamando a si um papel denunciador da fragilidade da conduta e do temperamento humanos.
Lincoln, ao longo da sua carreira política, acabaria na Presidência, com resultados que se sabe; e Ford, ao longo da sua inigualável carreira de cineasta, acabaria com quatro Óscares de melhor realizador, e um de Melhor Filme.

Vitória Sport Clube.


Salvo circunstâncias excepcionais, não haverá neste espaço mais análises avulsas a jogos do Vitória SC. Doravante, e se assim se justificar, qualquer assunto relacionado com o melhor clube do mundo será incluído na etiqueta "Futebol". Esta alteração tem a ver com uma sugestão de um amigo que muito prezo, e que decidi aceitar. Este espaço tem outro tipo de prioridades, que não o futebol.
O amor ao emblema da terra, esse, é inquestionável e cada vez maior. Vitória até morrer.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Escárnio Educativo.


A Turma, de Laurent Cantet, é um filme atípico. Atípico porque baseado numa experiência de vida aparentemente próxima de cada um de nós, mas que é difícil engolir ao depararmo-nos com muitas das cenas aqui retratadas. E quando digo "cenas" não o faço referindo-me ao termo cinematográfico, mas a verdadeiros momentos de paródia pedagógica, uns "engolíveis", outros um pouco menos, e outros ainda incontornavelmente detestáveis.
Este não é, de modo nenhum, um filme fácil de ver. O espectador é atirado para o meio de uma combustão emocional chamada sala de aula, onde predomina a lei do mais forte. Esta é, aliás, a única lei que parece por vezes dar resultado. Embora diga-se que o elemento mais forte a que me refiro não é o professor. A partir daqui os dados estão lançados para um banquete de desordem selvática, que faz tremer até a mais empedernida das almas. É lançado um imodesto desafio ao sistema nervoso central do espectador, entre gritos, insultos, desobediências de vária ordem, expulsões e uma mochila na cara.
Amigavelmente falando, no fundo até estão ali bons miúdos coitados. Vai-se a ver e a culpa até nem é só deles. Mas tornam-se num obstáculo ruim de ultrapassar para todo o pobre docente que tenha a desmedida ambição de conservar uma quantidade suficiente de sanidade mental. Ser professor nos subúrbios de Paris não é, repito, não é, agradável para os "Bégaudeaus" dessa França (e desse Portugal) fora.
Contudo, para o bem e para o mal, é uma Palma de Ouro muito bem dada.