segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

The Company (2007).


No tempo em que o mundo se dividia em dois blocos político-económicos antagónicos e irreconciliáveis, as actividades desenvolvidas pelas agências governamentais de espionagem e contra-espionagem detinham uma importância primordial no decurso dos acontecimentos. Por outras palavras, a "guerra" era "fria" precisamente porque disputada por meios não tradicionais, e em que por vezes valia mais o génio pessoal dos homens por detrás dos dois lados da barricada.
The Company, mini-série de dois episódios realizada por Mikael Salomon e co-produzida por Ridley Scott, mostra as mundividências do grande jogo que durou 46 a 91, os seus métodos, e sobretudo as regras da profissão, nem sempre vis. O que torna a série surpreendente é exactamente a familiarização com as regras deste jogo e com a abordagem adoptada por quem o jogava: imutáveis e implacáveis, mas com um pano de fundo onde imperava um certo reconhecimento e até respeito e admiração pelos cérebros oponentes.
Sem ser uma série de referência - está longe de o ser - The Company oferece-nos um reflexo privilegiado do fascinante mundo da espionagem, desfazendo alguns mitos (de que tanto gostamos) e mantendo outros. Aparte algumas passagens que pecam por uma desconexão algo simplória, e um ou outro erro de casting, The Company vale a pena pela riqueza com que trata certos aspectos da actividade, tais como o serviçal idealismo dos seus agentes, e a inelutável crença de muitos homens e mulheres de que as guerras não são ganhas apenas no campo de batalha ou atrás dos gabinetes das agências de segurança. Mas no terreno; em Berlim, Budapeste, Cuba e, do ponto de vista sempre parcial dos vencedores, em Washington, bem dentro do seu próprio covil.

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