quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

The Road.


A obra literária vencedora do Prémio Pulitzer para ficção em 2007 é nada menos que assombrosa. Cormac McCarthy, autor tarimbado e cada vez mais admirado, rubrica um romance enigmático, mas com muitas pontas soltas onde nos agarrarmos e reflectirmos. The Road transporta o leitor para um mundo pós-apocalíptico onde quase toda a vida no planeta desapareceu.
The Road é um relato fascinante de uma missão hercúlea em que pai e filho tentam, por todos os meios possíveis e imaginários, chegar à costa por entre um continente americano desolado, onde abundam grupos canibais ("the bad guys"). É este o pano de fundo para uma saga de sacrifício, sofrimento em doses massivas e muito, muito amor paternal, em contraste absoluto com a paisagem e com a bíblica tarefa que pai e filho têm de superar.
Neste contraste reside a riqueza da história, e é aqui que McCarthy mostra o seu génio literário: apesar da devastação e da aniquilação da civilização tal como a conhecemos, há espaço para aquilo que de melhor tem a raça humana, o amor pelo próximo, o qual é capaz de superar tudo e de explicar o grande mistério da vida.
O filnal é surpreendente, digno dos grandes clássicos, e constitui a súmula de toda a mensagem de McCarthy, um dealbar de esperança num futuro novo. Após ter protagonizado a destrição do seu planeta, só é permitida à raça humana um "reset" pelo mais simples e ao mesmo tempo mais complexo dos sentimentos. Um livro poderoso, assente no imaginário assustador mas credível de McCarthy, arrepiantemente cru e cruel na forma, mas portador de um desesperado repto a que é impossível ficar indiferente.

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