quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Single Man.


Uma estreia auspiciosa. É o mínimo que se pode dizer da que Tom Ford teve atrás das câmaras, na adaptação de A Single Man, romance homónimo de Christopher Isherwood, uma história passada no ano politicamente quente de 1962. O reverenciado estilista norte-americano rubrica uma obra de fazer cair o queixo, onde nada parece falhar. Todo o filme é uniforme, uma sinfonia de sentimentos que vem cobrar ao espectador a desfaçatez de, num laivo de preconceito, alguma vez ter duvidado do talento de alguém que desenha roupas. Não se duvide pois, já que A Single Man é um daqueles filmes que nos surpreendem não só pelo nome de quem realiza, mas por uma conjugação simbiótica de dois actores soberbos, Colin Firth e Julianne Moore. Se Firth, na pele de um professor universitário homossexual que perde o amor de uma vida até aí perfeita, enche completamente o ecrã; Moore aparece fulgurantemente como a sua cara-metade, alguém com quem partilha um passado comum, embora um pouco menos tortuoso.
O grande mérito de Ford (que surpresa mais uma vez!) reside na captação perfeita do tormento de George Falconer (Colin Firth), e da fragilidade e permeabilidade do seu estado de alma ao longo daquele que será o seu último dia de vida. O jogo de cores que Ford faz trespassar para fora do ecrã tem uma força tremenda, e realça ainda mais a já de si espantosa interpretação de Firth. Ford consegue também, e o filme não o esconde, transportar os seus dotes de profissional da moda para a tela, num trabalho meticuloso de design, notoriamente assente numa produção de época imaculada. Os ambientes, as interpretações e, não esquecendo, a glamorosa banda sonora, conferem ao filme um poder hipnotizante sobre o espectador, cedo rendido à sua beleza.
Tremendamente emocional, A Single Man faz a apologia dos mais profundos sentimentos humanos, a dor, a perda, o vazio, o amor; alcançando essa quase inenarrável proeza de acometer na mesma obra uma realização tão pessoal e tão viva, conjuntamente com uma estética carregada de charme e de significado combinação que só poderia resultar num filme simplesmente...arrebatador.

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