segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Slumdog Millionaire.


Alguns anos depois de Trainspotting, Danny Boyle regressa por fim à sua veia artística mais entusiasmante. Slumdog Millionaire é uma história de encantar, daquelas contadas às crianças antes de adormecer. Um verdadeiro conto de fadas à maneira indiana, com laivos de Bollywood, crivado por um humanismo capaz de catalisar um sem-número de emoções que atordoam os sentidos e fazem elevar a alma. Slumdog Millionaire é uma grandiosa obra de arte, fulgurantemente lapidada.
A par da história de encontros e desencontros de dois irmãos dos bairros de lata e da shakespeariana história de amor do mais novo, o filme é o retrato não só do desenvolvimento da cidade de Bombaim, mas também o de toda a Índia moderna. Jamal, Salim e Latika são produtos típicos das vivências conturbadas num país que esmaga por completo as classes mais baixas de população, reduzindo-os literalmente a rafeiros de rua (“slumdogs”); seres que nada valem, desprotegidos e autênticos objectos de exploração. O crescimento do trio de personagens principais acompanha o ritmo de crescimento do país, conseguindo um melhor nível de vida mas nem por isso mais livre.
A toada à volta do concurso televisivo mais visto da Índia é demonstrativa da fragilidade e da permeabilidade da sociedade indiana ao encandeamento das luzes de uma ribalta praticamente inacessível, mas à qual Jamal, por amor a Latika, foi capaz de ascender. À boa maneira de Dickens, a ascensão do pobre Jamal obedece a uma única palavra-chava, que é também a de todo o filme: destino.
Slumdog Millionaire é uma pérola, uma fita inovadora no modo como entrecruza lágrimas, riso, choque, surpresa, tudo o que de mais o cinema deve ter em doses maciças. É dos poucos filmes onde as pessoas se voltaram a sentar para verem o genérico depois de já estarem levantadas para saírem da sala. Até isso prende. Depois de quatro Globos de Ouro e de sete prémios BAFTA, o próximo passo é inequívoco: Óscar. Só a estatueta dourada fará justiça àquela que foi já descrita como a primeira obra-prima do cinema globalizado.

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