quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Смерть Ивана Ильича.


Pode não haver romances perfeitos. É bem provável que não existam. A literatura, como toda a arte, é um mundo de possibilidades infinitas. Mas há histórias, que contadas por determinadas palavras, parecem conter dentro de si todo o universo humano. É o caso de um pequeno romance escrito por Tolstoi, de poucas delongas, pouco conhecido, mas não por isso menos belo, nem menos profundo.
A descrição da Morte, como se não fosse preciso mais. Tolstoi traça um retrato envenenado da superficialidade da sociedade da época, tão terrível quanto actual. É uma sociedade que aliena o indivíduo, que por medo aceita, segue e promove os seus padrões de comportamento, sem questionar. Tudo na vida de Ivan Ilitch foi feito para agradar à norma, à convenção: o casamento, a casa e a decoração desta, o trabalho como meio e depois como fuga, as festas. Quão nefastamente deixamos de ser nós se assim for. Quão deturpada é uma vida que não se vive, apenas se existe.
Ivan Ilitch, ontem como hoje, é um revoltado. Como é possível que numa vida aparentemente tão longa, tão trabalhosa, tão cheia de escolhas e de caminhos, apenas a infância valha a pena? No seu leito de Morte, horrenda e incontornável, Ilitch recorda o sabor das ameixas que comia. E de novo parava na infância, e de novo era doloroso…Lindo.

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