quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama Para a Posteridade.


Sente-se o peso da História. Barack Hussein Obama, um jovial político americano de sorriso fácil e cativante, com um nome exótico e de proveniências pouco habituais, metade americano, metade queniano, com um passado dividido entre o Havai e a Indonésia, é o 44º Presidente dos Estados Unidos da América. Não é uma série televisiva, não é um filme, não é ficção. O Presidente dos Estados Unidos é um negro, e uma lufada de optimismo e esperança varre o mundo. A História saberá a seu tempo julgar e apreciar devidamente este momento, mas é já mais do que certo que um mito foi quebrado.
Num país que só há 40 anos oficializou o fim da segregação racial, um negro foi eleito. Esta é a inquestionável prova de que os Estados Unidos, tal como os concebíamos, não são os mesmos. A América quer recuperar o ideal romântico de "terra das oportunidades" que sempre teve aos olhos dos povos de todo o mundo. Uma terra com muitos defeitos é certo, mas onde todos têm espaço, onde todos cabem, e onde todos têm uma oportunidade para serem felizes e (re)construírem as suas vidas. É por isso que esta eleição confirmou o que muitos pareciam ter esquecido: que a América é um país aberto à mudança e a novos rumos políticos e sociais sempre que se justifique. A América recuperou a sua identidade e o seu orgulho, não só perante o mundo mas, mais importante, perante si mesma. Mostrou que a sua democracia é capaz de se rejuvenescer e de mandar uma pedrada no charco quando as coisas vão realmente mal. Na Europa e no resto mundo livre, os seus líderes e povos esfregam as mãos: a América está de volta.
Sente-se, com esta eleição, que não não foi por medo nem por resignação que as pessoas foram às urnas. Desta vez, votaram com efectiva vontade de mudar, e de serem a principal força motora dessa mudança. É a eleição mais participada de sempre, a mais debatida de sempre, aquela que mais sentimento e emoções fez brotar. É a beleza da democracia e do Estado de direito. E é de realçar que lições deste tipo continuam, em pleno século XXI, a ser dadas à Europa e ao mundo pelo mesmo povo que há mais de 200 anos foi pioneiro na defesa dos direitos inalienáveis da pessoa humana.
No dia de ontem, a 4 de Novembro de 2008, foi escrita uma das mais belas páginas da História. E nós somos os sortudos que que a presenciámos.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Sente-se, com esta eleição, que não não foi por medo nem por resignação que as pessoas foram às urnas. Desta vez, votaram com efectiva vontade de mudar, e de serem a principal força motora dessa mudança. É a eleição mais participada de sempre, a mais debatida de sempre, aquela que mais sentimento e emoções fez brotar."

Vamos lá ver se afinal o novo inquilino da Casa Branca não desilude! Não desilude os Americanos, não desilude os aliados Europeus, não desilude o mundo. Aliás, esta vitória histórica, marca de “que os Estados Unidos, tal como os concebíamos, não são os mesmo”, pode vir a alterar as posições que algumas potências regionais tomaram até agora. Não é de estranhar que Pequim, Caracas, Nova Deli ou, até mesmo, Tóquio vissem em McCain e Sarah Palin uma melhor “alternativa” para o mundo. Digo isto porque, se repararmos, a atitude belicista que Bush tomou nos últimos anos funcionou como catapulta aos interesses chineses, venezuelanos e indianos. Estas três nações puderam afirmar-se em campos distintos, aproveitando as fraquezas e a má imagem que os norte-americanos foram ganhando ultimamente. Por outro lado, o Japão e os seus líderes políticos viram em McCain a continuação do hard power, que, de certa forma, servia como principal guarda-chuva na política de vizinhança dos nipónicos com a China e com a Coreia do Norte. O uso de um previsível soft power por parte de Obama vai, então, virar o tabuleiro internacional, não justificando, na maior parte das vezes, as atitudes de repúdio que os EUA foram alvo ultimamente. Estaremos perante um presidente vincadamente adepto de teorias mais cooperativistas ou estamos apenas a iniciar um estado de graças que, mais tarde ou mais cedo, fruto da incerteza internacional, obrigará Obama a continuar a política de intervencionismo unilateral a que Washington nos habituou nos últimos anos?

João Gil disse...

Caríssimo Alberto,

Assim é de facto. Há muita esperança por enquanto, mas há quem diga que as pessoas não deviam andar assim tão esperançosas. Obama lá no fundo pode ser igual a tantos outros. Mas que há muita fé há...E isso era algo que já nao se via ha muito tempo e que faz muita falta. As pessoas têm uma necessidade primária em acreditar em algo, muito mais em tempos de crise. E Obama conseguiu isso. Se vai dar continuidade, é impossível saber. Mas pior que o W não é de certeza.

Anónimo disse...

Eu nunca cheguei a ter pelo McCain a antipatia que eu (e o resto do mundo) tem pelo Bush. Acho que se McCain tivesse sido o candidato republicano nas eleições de 2000 e 2004, talvez o mundo hoje fosse um lugar diferente. Obama teve, além de carisma, muita sorte. Ele é o exemplo mais perfeito do "be at the right place at the right time". Em nenhum outro momento da história americana isso teria acontecido, e acho que Obama deve ao George W. um gigantesco "Thanks!". Se O Bush não tivesse jogado os EUA em um buraco tão grando quanto ao que estão agora, Obama jamais teria sido eleito. E no fundo acho que todos nós somos gratos por isso também, gratos por podermos ver essa página dos livros de história. Por isso, obrigada Bush, obrigada por ter sido esse péssimo presidente, pois graças a você nós podemos ver o mundo mudar.

Contribuiu,

Larissa