sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A Evitável Queda do Tio Sam.


O mundo já não é unipolar. Uns dizem que ainda é e será. Outros que ainda é, mas não por muito tempo. Outros ainda afirmam categoricamente que nunca foi. E, dentro destes, alguns dizem que é unimultipolar, outros que é simplesmente multipolar. A confusão do leitor não será menor que a do escriba. Quando os académicos não acertam, o comum dos mortais não fará por certo muito melhor, se bem que nestas coisas o senso comum conta e não é pouco.
Para clarificar estas e outras dúvidas, Fareed Zakaria, homem reputado, doutor por Harvard e actual editor internacional da Newsweek, traz a público um livro bem oportuno. Bem escrito, dentro da simplicidade possível, sem floreados e repleto de exemplos ilustrativos, Zakaria traça o ponto da situação da conturbada distribuição de poder a nível mundial. O retrato, esse, é claro: os EUA, outrora intocáveis, estão a perder terreno face às potências emergentes do Oriente, não só económica mas sobretudo politicamente. China e Índia são por isso os mais vibrantes e elucidativos desafios estratégicos com que os EUA terão de lidar.
Contrariamente ao convencionado, os novos poderes, explica Zakaria, não representam ascensões políticas ou militares do tipo tradicional. São, isso sim, ascensões pautadas por uma diplomacia tranquila, nada quezilenta, preocupada com a vertente económica e em estender o seu braço comercial a toda a Ásia e depois ao resto do mundo. Se a China ou mesmo a Índia fossem uma ameaça do tipo da que representava a União Soviética, os EUA estariam preparados. No entanto, para este novo tipo de ascensão e de crescendo pacífico, os EUA não estão preparados e serão forçados a mudar radicalmente de estratégia.
Mas como? Nas suas palavras, já nem se pode falar em futuro: “o futuro já está aqui”. Os anos 90 habituaram mal os EUA, que se tornaram preguiçosos, arrogantes e presunçosos na arena internacional. A unipolaridade fez mal a um país, que na economia sempre se privilegiou e incentivou a concorrência, mas que em termos de política externa se habituou a agir sozinho, sem obstáculos ao seu poder. E isso complica a resposta que terá de dar.
De acordo com Zakaria, “Washington ainda não descobriu que o imperialismo diplomático é um luxo que já não pode sustentar”. Ainda assim, os EUA têm todas as condições para conservarem o seu poder dominante, embora já não hegemónico. Para tal, terão de fazer escolhas e não gastar recursos em zonas do mundo onde não tenham muitas hipóteses de levar a sua avante; deverão procurar ser o motor da criação de regras, práticas e valores para que o mundo se possa reger; devem manter melhores relações com as novas potências do que elas mantêm entre si; deverão fazer mais trocas e compromissos com outros países; devem pensar assimetricamente e não se deixar iludir por ameaças sobreavaliadas como o terrorismo islâmico; e devem, last but not least, actuar com mais legitimidade, a qual será necessariamente fonte de poder na nova era em que entramos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boas!

joão, tens este livro em casa?

abraço,
alberto

João Gil disse...

Tenho sim caríssimo colega!