segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Retratando um Monstro.

Hitler sempre foi um olhado como um demónio da Humanidade. Os factos falam por si e não deixam mentir: uma guerra mundial, a qual deixou atrás de si um rasto de destruição sem precedentes na história do mundo, reclamando as vidas de 50 milhões de pessoas entre civis e militares, onde se incluem 6 milhões de judeus nos lamentavelmente famosos campos de extermínio. Cidades arrasadas, património irremediavelmente perdido e uma nova ordem mundial foram as pricipais consequências do turbilhão que alterou (a mal) a face do mundo entre 1939 e 1945.
Sendo muito embora bastante incomum os politólogos e historiadores centrarem as suas análises no nível puramente individual dos fenómenos sociais, a verdade é que o papel e a força aglutinadora deste indivíduo como sujeito histórico é um papel que ultrapassa o acaso e a superficialidade. A dimensão bíblica dos seus crimes aliada às sensibilidades que várias décadas depois ainda consegue ferir vai lateralizando a análise deste indivíduo pela via artística, como é o caso do cinema. Der Untergang, ou A Queda em português, vem de encontro à norma e, mais do que isso, distorce-a por completo ao focar o alegado lado humano, ou se quisermos, humanizante, do ditador autro-germânico.
Posto isto, A Queda é, desde logo, um filme misterioso. Nunca vai revelar tudo, vai sempre deixar à consideração do espectador aspectos fulcrais da personalidade de Hitler, vai sempre deixar muita coisa implícita. Mas não deixa por isso de ser um exercício cinematográfico marcado por uma toada assumidamente ambiciosa e, claro está, absolutamente fascinante - facto a que não é alheio o carácter eminentemente revisionista da obra.
Abaixo segue aquela que para mim é, por excelência, a cena que cola o espectador à cadeira e faz estremecer todos os sentidos do seu corpo: o momento em que Hitler se consciencializa da inevitável derrota final do III Reich às mãos das forças soviéticas que já se movimentavam nos escombros de Berlim. Pelo corpo do actor Bruno Ganz faíscam os olhos de Hitler, que vocifera enraivecido contra os seus, num momento marcadamente dramático e infinitamente perturbador. Obrigatório.


1 comentário:

Anónimo disse...

"A Queda" é um filme fenomenal! A não perder mesmo!