quarta-feira, 15 de julho de 2009

Incongruências.

Não existe, neste país, uma consciência crítica bem definida acerca da política externa portuguesa, ao contrário do que acontece em países como os EUA, o Reino Unido e até mesmo o Brasil.
Veja-se o caso do apoio directo estrangeiro atribuído pelo Estado português: mais de 50% do apoio directo é concedido a Angola, um dos países mais ricos de África e de longe o mais rico de todos os PALOP. Acontece que Angola é também um dos países com pior desempenho em termos de governance do mundo. Angola só recentemente melhorou um pouco a sua posição no ranking da Transparency.org, e está actualmente na 158ª posição, mesmo assim bem atrás de Moçambique.
Entre 2003 e 2005, Angola recebeu quase 60% do apoio dado por Portugal, enquanto Moçambique, citado apenas como exemplo, que tem mais população e melhores indicadores internacionais, recebeu apenas 5% do total dessa mesma ajuda.
Falta massa crítica para pensar a nossa política externa, faltam plataformas para a sua discussão, falta que a sociedade civil no geral ganhe consciência do rumo e das prioridades que ela assume.

2 comentários:

Hugo Monteiro disse...

GiL:

A quantidade de jornaizinhos e revistinhas com propaganda Angolana que têm vindo a aparecer cá no burgo não são desprovidas de motivos.

Anónimo disse...

É bem verdade o que dizes sobre Moçambique. A quantidade de Agências de Cooperação internacionais que estão presentes neste país é incrível. Por exemplo, eu vivo em Chókwè (Província de Gaza), a mais de 200 kms a nordeste de Maputo. É uma região pobre mas onde existem agências de cooperação de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, África do Sul, EUA e Japão. Isto fora as organizações internaconais (UNICEF, WFP, WHP, etc). Moçambique é apontado como um país exemplo no caso da aplicação das ajudas internacionais e por isso muitos países gostam de estar cá presentes. Contudo, uma coisa não posso deixar de comentar. Tantos anos de cooperação e tanto dinheiro investido a fundo perdido em Moçambique e mesmo assim as coisas continuam a caminhar no sentido errado! A população continua cada vez mais pobre, apesar de o país produzir muito mais, as doenças (HIV, malária e cólera)continuam a ceifar muitas vidas apesar das inúmeras campanhas contra elas e dos inúmeros gastos em novos hospitais e centros de saúde. Depois é fácil ouvir dizer que os ricos são sempre os mesmos... os que estão no topo da distribuição da ajuda vinda do exterior!