quarta-feira, 8 de outubro de 2008

McCain vs. Obama - Round 2.



E à segunda foi de vez. Barack Obama foi um claríssimo vencedor do debate que na madrugada de hoje opôs os candidatos democrata e republicano à chefia do (por enquanto) estado mais poderoso do mundo. O senador do Illianois partia para Nashville com uma pequena vantagem nas sondagens, vantagem todavia magra e possivelmente até enganadora, dado que muitos dos que responderam que preferiam Obama não confirmaram que votariam de facto. Já McCain via-se obrigado a correr atrás do prejuízo, mesmo após a boa performance tida no primeiro embate. Este segundo debate afigurava-se, portanto, fulcral para as aspirações do republicano. Nenhum dos dois se podia dar ao luxo de cometer qualquer gafe, nefastas numa altura em que campanha entra na sua fase decisiva.
O formato deste debate não favoreceu McCain. Ambos os candidatos passaram a maior parte do tempo de pé a responder a perguntas da plateia, e a perguntas colocadas pelo moderador, dentre as cerca de seis milhões que haviam sido enviadas via Internet. McCain fez contrastar o peso da sua idade com a jovialidade do seu adversário, pelo modo como andava com dificuldade no círculo preparado para o efeito. Por outro lado, McCain esteve quase sempre na sombra de Obama na questão económica (onde nenhum dos dois é especialista), e mais ainda na discussão sobre política externa. Num debate em que ambos procuraram reforçar as ideias transmitidas no primeiro debate, Obama soube contornar os ataques de McCain, os quais muitas vezes saíram de tom. Obama conseguiu também sacudir um argumento que McCain usou com frequência, relacionado com o facto de ter mais currículo do que ele. Disse várias vezes McCain: “Look at my record and look at his”.
Na questão económica, questão central no debate em virtude do recente abalo nos mercados financeiros internacionais, a confrontação verbal surgiu um pouco oca de conteúdos, mas teve algumas tiradas interessantes: McCain acusou Obama de ter responsabilidades na falência do Fannie Mae por via da sua acção no Congresso, ao passo que Obama acusou McCain de ir contra vários projectos lei que visavam o investimento em energias limpas, factor que o democrata considera essencial para uma recuperação económica dos EUA. Por outro lado, Obama insistiu e bem na importância de apurar responsabilidades ao mais alto nível por tudo o que tem acontecido nos mercados. McCain reforçava a ideia de credibilidade e de solidez que o próximo Presidente devia ter para enfrentar uma crise sem precedentes. Em suma, discursos vazios, mas dos quais se conclui que Obama esteve acima do seu rival, tanto pela fluidez do discurso como pela maneira como soube colar McCain a uma imagem de imobilismo e de passado. E esteve particularmente bem ao insistir regularmente que todos devem partilhar o fardo (”share the burden”), e não apenas alguns – algo que McCain não fez.
Em termos de prioridades, Obama soube também ser mais assertivo e convincente do que o republicano. Colocou, por esta ordem – e sem contornar a pergunta como fez McCain – a energia, o sistema de saúde e a educação como prioridades para o seu mandato. Defendeu a produção de energias limpas em solo americano, para evitar a sua compra ao estrangeiro; e prometeu fazer girar toda a economia à volta das novas energias limpas. Defendeu a redução de impostos para 95% dos americanos, e um favorável sistema de crédito para que as PME’s possam adquirir seguros de saúde para todos os seus funcionários. McCain foi forçado a ir atrás de Obama neste assunto e não esteve nunca à altura das propostas do democrata. Obama desacreditou McCain na questão dos seguros de saúde, argumentando que a procura de seguros de saúde fora do estado de residência promoveria a desregulação total do sector.
No concernente à política externa e de segurança, não houve grandes avanços nem grandes novidades; apenas o reforço daquilo que ambos haviam defendido no Mississípi. Para McCain a prioridade é o Iraque, para Obama é o Afeganistão. Mas o democrata esteve em grande quando afirmou claramente que os 10 biliões de dólares que os EUA gastam todos os meses no Iraque é dinheiro que o país precisa dentro de portas para pôr as pessoas a trabalhar. E foi capaz também de virar a acusação de McCain sobre o facto de ser mais experiente e mais talhado para a política externa, perguntando como é que alguém tão capaz falhou rotundamente ao apoiar a invasão do Iraque. De resto, não houve grandes novidades, dado que nenhum dos dois tem diferenças de fundo quanto a questões como a Rússia, Irão, ou quanto a intervir em casos de genocídio – em que ambos dão preferência à opção multilateral).
No final, vitória consensual para Obama, muito melhor do que no primeiro debate – contra um McCain que não fez jus à fama de dureza pela qual é conhecido, sendo excessivamente moderado, que foi algo que o descaracterizou aos olhos de quem o conhece e que estava à espera de ver o «verdadeiro» McCain. Será que senador do Arizona vai a tempo de emendar a mão? Não será nada fácil, tendo em conta que este debate consolidou Obama bem à sua frente. Seria preciso uma grande (ou várias) escorregadelas do seu rival para aumentar as suas hipóteses de eleição a um nível mais aceitável. Mas não é menos verdade que por esta altura, e depois de uma desastrosa governação republicana, qualquer candidato democrata já devia levar muita mais vantagem face a qualquer republicano, algo que não acontece. E este é dos poucos pontos que McCain pode ainda explorar. Seja como for, Barack Obama está mais perto da Casa Branca. Dia 15 há mais, em Nova Iorque.

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