quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Paul Thomas Anderson: O Próximo Coppola?

Magnolia (1999) é o filme do sofrimento. São mais de três horas em que os olhos não despegam do ecrã, arregalados com tamanha sumptuosidade. O filme está impregnado com cenas de rara beleza, daquelas que tocam até o mais rabugento dos corações. Magnolia é um objecto cinematográfico que faz a alma desesperar-se aos poucos, perante histórias aparentemente banais, mas lá no fundo densamente complexas. A mestria é de Paul Thomas Anderson, uma das mentes mais geniais de Hollywood. Impressionante é deslindar como Anderson permeia e interliga os anseios, as frustrações e os devaneios de não poucas personagens, captando a quente as suas emoções e transpondo-as para o olhar do espectador na sua dimensão mais impiedosa e mais cruel.
A câmara de Thomas Anderson é crucial neste emaranhado de situações psicologicamente dramáticas. A precisão dos seus movimentos aliada à maneira como foca, por exemplo, o rosto dos personagens numa sincronia perfeita com o meio envolvente é, pode dizer-se, um dos mais significativos traços do cineasta californiano. E talvez a melhor cena para o demonstrar seja esta onde as personagens são focadas no seu espaço físico e psicológico mais íntimo, sem constrangimentos nem superficialidades - onde o papel da música (Wise Up de Aimee Mann) é particarmente importante. É um momento de rara beleza que perdurará certamente na memória de qualquer um. Esta cena tem de vir nos manuais de cinema.
Refira-se também, em Magnolia, a introdução da temática das probabilidades e do acaso e na forma como esta entra de rompante na vida de cada um, perante as suas mesclas de pequenez e impotência. E a forma como capta a solidão inata e irremediável de cada um deles é simplesmente única. Pois no final é disso mesmo que se trata: mesmo nas sociedades mais ricas e evoluídas, todos sofremos sozinhos, à nossa maneira sim. Mas sozinhos.


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