quinta-feira, 16 de outubro de 2008

McCain vs. Obama - Round 3.

E, por fim, o último. Já não há mais debates até 4 de Novembro próximo, dia em que pouco menos de 290 milhões de norte-americanos serão chamados às urnas para, entre muitas outras coisas, escolherem o seu dirigente máximo até 2012. Para o terceiro apronto entre os dois candidatos, Barack Obama continuava bem à frente nas sondagens em relação a John McCain. Se bem que com números divergentes, é possível afirmar com relativa certeza que Obama estava – e continua a estar – numa posição privilegiada na corrida à Sala Oval. Contudo, não é de menosprezar o facto de que McCain dispõe ainda de um número suficiente de indecisos para dar a volta à eleição, cerca de 8% segundo a última sondagem CNN. E mesmo não sendo crível que todos os indecisos acabem convencidos pelas ideias do senador republicado, não é menos verdade que algumas sondagens podem estar a pecar por excesso em relação à alegada vantagem de Obama: o New York Times atribui 14% de vantagem ao democrata, ao passo que a Gallup atribui apenas 3%. Números confusos e dispersos que não permitem conclusões sólidas. De qualquer modo, e jogando à defesa nas afirmações, Obama lidera, e à partida para o derradeiro frente-a-frente, tinha mais do que condições para manter ou até aumentar a vantagem face a John McCain. É importante ainda veicular que Obama parece, até agora, ter de alguma forma superado com sucesso a questão racial, em especial a natural antipatia que muitos hispânicos e alguns sectores brancos nutrem pelos negros nos EUA. Obama não é visto como um negro típico, muito menos como um segundo Jesse Jackson ou um Martin Luther King Jr. E isto tem sido fulcral para Obama ter chegado onde chegou.
Já o republicano não conseguiu nunca, em nenhum momento da campanha, afastar-se o suficiente de George W. Bush. Havia feito até aqui uma campanha sem novidades de maior, cujo maior golpe mediático (chocante para alguns até) foi a escolha de Sarah Palin para vice. Escolha que não correu da melhor maneira a McCain, que após um período inicial de aprovação, cedo viu a sua “running-mate” revelar a sua verdadeira face, a qual, como é amplamente sabido, não agradou a quase ninguém. Ainda para mais tendo em conta que é no mínimo plausível pensar que as hipóteses de chegada à presidência do nº 2 de McCain, fosse ele (ela) qual fosse, são consideráveis. Portanto, tornava-se imperativo para o senador do Arizona puxar dos galões neste último debate e passar a ataque.
E foi isso mesmo que aconteceu. No palco da Universidade de Hofstra, em Hempstead, Nova Iorque, McCain começou e acabou o debate com uma chuva de críticas ao democrata, naquele que foi sem dúvida o mais intenso e vivido dos três debates a que tivemos oportunidade de assistir. Houve fases em que esteve melhor do que Obama, mais convincente, sabendo ser forte nas críticas sem ser paternalista, e sabendo ser duro sem ser ofensivo – dois erros crassos que McCain poderia ter cometido mas que não cometeu. Entrou de rompante, procurando colar a imagem de Obama ao aumento de impostos, ao passo que apregoava enfaticamente uma política económica centrada em descidas fiscais. Prometeu poupança acima de tudo, e fez tudo para se distanciar de Bush, estando particularmente bem quando interceptou Obama dizendo: “I am not President Bush. If you wanted to run against him you should have done it four years ago.”
Na área económica, Obama esteve ao seu estilo habitual. Sem arriscar – assim ditavam as sondagens – limitou-se a responder aos ataques de McCain, o mais calmamente possível, consolidando no eleitorado a sua a imagem de solidez e confiança. E creio que o conseguiu. Insistiu no redefinir de prioridades, defendendo a eliminação dos programas estatais que não funcionam em favor dos que funcionam e prometendo reduzir a carga fiscal a 95% das famílias. Nada de muito novo, portanto. No tema da campanha, o democrata tremeu um pouco face às investidas do republicano, que o acusou sucessivamente de interesses em certos sectores e de uma campanha obscura. Mas no final acabou por sair-se bem, ao colocar preto no branco as pessoas que o acompanharão à Casa Branca em caso de eleição.
Na pergunta sobre os respectivos “vices” (aqui em vídeo), Obama levou inequivocamente a melhor. McCain não soube atenuar a imagem de Palin, e não fez sobressair suficientemente bem as suas virtudes; ao passo que Obama elogiou Joe Biden eficazmente, tocando nos pontos essenciais da sua personalidade, ou seja, na sua especialidade, que é a política externa.



O debate prosseguiu com a discussão sobre energia e alterações climáticas, altura em que é difícil dizer quem esteve melhor. McCain saiu-se bem, provando não ter esquecido o tema, sendo peremptório na aposta no nuclear. Já Obama optou por um discurso cuidado mas revelador, focalizando-o na importância da energia limpa, a qual afirmou ser o motor da economia americana para o próximo século. E disse acreditar ser possível reduzir a factura petrolífera em dez/quinze anos anos - uma previsão mais realista do que a do republicano. Este é um dos pontos que jogam bastante a favor do democrata, e que o distingue bem de McCain. De resto, soube, na noite de ontem, defender-se a grande nível dos ataques do adversário, aos quais respondeu separadamente e com enorme à vontade – especialmente neste tema. McCain, por seu lado, já pouco tinha por onde pegar, voltando a dirigir-se em tom pessoal a uma pessoa em concreto durante o tema da saúde. Mas mais uma vez, Obama teve uma resposta à altura do republicano, ao declarar que os cuidados de saúde nos EUA devem começar por ser, antes de mais, preventivos.
O debate chegou ao fim com mais investidas de McCain, as quais em parte deram resultado. Obama teve um período menos bom, durante o qual não teve arte nem engenho suficientes para não deixar McCain ficar por cima. De qualquer forma, o candidato democrata equilibrou a contenda na parte intermediária, para não mais a deixar escapar. Resumindo, McCain esteve melhor do que no primeiro debate e muito melhor do que no segundo, mas Obama primou pela regularidade e rectidão no discurso, algo imensamente apreciado por todo o eleitorado. Por isso, e no conjunto dos debates, Obama levou a melhor por 2-1 – ainda por cima nos dois últimos, os que mais ficam gravados na memória.
Barack Obama, actual senador pelo estado do Illianois, 47 anos, é a minha aposta para próximo presidente dos Estados Unidos da América, numa eleição onde não só se decide o futuro do país, mas o futuro modelo sobre o qual assentará todo o sistema de relações internacionais para os próximos quatro (oito?) anos.

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