segunda-feira, 8 de junho de 2009

Viragem à Direita.


As eleições para o Parlamento Europeu, apesar de terem sido as menos participadas de sempre, demonstram uma viragem à direita no eleitorado. Os dados são claros: a direita venceu nos maiores países europeus, com as seguintes margens aproximadas: em Itália por 8%, em Espanha por 5%, em França por 11%, na Polónia por 15%, na Holanda por 3%, em Portugal por 5%, na Áustria por 6%, na Alemanha por 10%, na República Checa por 9%, na Bulgária por 7%, na Finlândia por 4%, na Hungria, por 40%(!), na Eslovénia por 9%, na Lituânia por 7%. A direita ganhou ainda em países como a Bélgica, Irlanda, Letónia, Chipre e Luxemburgo. Por seu lado, a esquerda venceu na Dinamarca, na Grécia, na Suécia, na Eslováquia, em Malta.
Já no Reino Unido, espera-se que os Conservadores obtenham uma vitória no mínimo folgada, sendo que o British National Party elegeu pelo primeira vez um deputado ao PE, com hipóteses de eleger um segundo.
O espectro político europeu, na sua globalidade, virou portanto à direita. Conservadora ou não, mais ou menos radical, os europeus votaram de forma mais ou menos uniforme no centro-direita. Atenda-se também ao facto de que mesmo a extrema-direita não recuou, sendo que em vários países viu a sua votação aumentar exponencialmente, tal como aconteceu no Reino Unido, Áustria, Holanda e Hungria.
Quem recua significativamente é o grupo político dos socialistas europeus (PES), em cerca de 6% na globalidade. Parece ter residido aqui a derrota da esquerda. Em importantes países europeus como Espanha, Reino Unido, França e Alemanha não só a direita manteve a votação como ganhou margem à esquerda. Para tal, a acentuada crise em Espanha e os escândalos no Reino Unido podem ter sido uma das principais explicações para a perda de votos do centro-esquerda.
Crise económica, imigração, corrupção, desemprego, inflação, criminalidade e fiscalidade - com especial incidência para as duas primeiras - são apontadas como outros dos principais motivos para estes resultados. Perante estes problemas, os eleitores parecem inclinar-se para soluções à direita, e não à esquerda.
Refira-se por fim que grande parte dos representados no grupo político dos não-inscritos são formações de extrema-direita nacionalista.
A Europa virou à direita. Perigosamente?

4 comentários:

Alberto Chaves disse...

Aqui está um exemplo para ter uma imagem geral do que aconteceu nas últimas eleições para o Parlamento Europeu! Aqui em Moçambique, infelizmente, esses assuntos não têm qualquer relevância e por isso não há praticamente nenhuma referência às eleições.
João, não temo que a viragem à direita seja demasiado perigosa. Diria antes que é a resposta ciclica ao panorama europeu. Crise económica leva a direita a tomar posições avançadas. Mas, não estou crente que uma vaga de direita (como a que levou Hitler e Moussolini ao poder) possa "atacar" de novo a Europa!

abraço

João Gil disse...

Caríssimo! Bem haja!

Eu nao disse que vinha aí um novo Hitler...Limitei-me a constatar um facto que me parece que merece alguma atenção, mais do que aquela que tradicionalmente se dá a aumentos de votação em partidos radicais. Muita da sua votação é por protesto puro, mas não deixam de ser votos.

Samuel Silva disse...

Boa análise, Gil.
Mas acho curioso que Potugal apreça em contra-ciclo com a Europa. Quando todos viram à direita, o nosso país fez subir a esquerda. Apesar da vitória inequívoca do PSD, BE e PCP juntos valem quase um quarto da população.
Só não sei é como explicar esse facto.

João Gil disse...

Houve uma erosão de votos do PS em parte para o PSD e outra parte para os partidos mais à esquerda. Não me surpreende que BE e CDU tenham tido boas prestações. Aqui em Portugal, o voto de protesto vai mais depresa para a esquerda do que para a direita. Ao contrário de muitos países europeus.