quinta-feira, 16 de abril de 2009

Munique (2005).


O ódio visto pela lente de Spielberg. Na verdade, a temática não é não é nova no realizador, sendo já vários os exemplos onde Spielberg faz questão de passar para o cinema algo que lhe é caro, e que tem sobretudo a ver com a má condição das vivências humanas, com o ódio politico, étnico ou religioso, com a exploração do homem pelo homem, e com a eterna demanda pela liberdade. Amistad, O Império do Sol, A Lista de Schindler, O Resgaste do Soldado Ryan, e até mesmo Terminal de Aeroporto, são exemplos de uma das grandes e mais reconhecidas facetas do famoso realizador norte-americano.
Munique é mais um exemplo de uma reconstituição histórica destinada a homenagear directamente quem sofre(u) com o ódio, na pelo de quem foi impiedosamente vítima da propagação deste. Munique, pese embora não desdiga obras anteriores, é contudo um registo que não foca somente o sofrimento. Em Munique, o sofrimento pelo ódio está lá, mas a tónica essencial do filme reside na vingança crua e implacável movida sem sentimentalismos e sem porquês. Munique não culpa nem desculpa ninguém; como o próprio Spielberg o disse, o filme "não procura culpados".
Tendo como ponto de partida o ataque movido pela Setembro Negro à comitiva israelita aos Jogos de Munique em 1972, o filme conta a história do ajuste de contas levado a cabo pelo governo de Golda Meir contra os idealizadores do golpe. Um por um, os cérebros do golpe vão sendo fria e inescrupulosamente eliminados pelo grupo escolhido (mas não oficializado) pelo governo israelita.
No meio do "olho por olho, dente por dente", há afinal lugar para moralidade e para equidade? Se há, qual? O filme parece responder que dificilmente a violência terá fim enquanto o ódio estiver tamanhamente enraizado dos dois lados da barricada; enquanto o ódio cego se basear na secularidade do ódio e não se começar verdadeiramente a pensar num futuro para árabes e israeltas. Munique é assim um valioso e surpreendente raciocínio sobre as acções humanas, e sobre a ténue fronteira que separa (separará neste caso?) identidade de fundamentalismo.

Sem comentários: