quarta-feira, 15 de abril de 2009

Filadélfia (1993).


Filadélfia é um caso peculiar na história do cinema. Embora os haja, não de todo fácil encontrar nos anais do cinema objectos que, mais do que filmes, sejam verdadeiras fotografias de eras em transição. Filadélfia é um deles.
Até aos inícios da década de 90, praticamente não havia quem em Hollywood tivesse ousado quebrar um dos últimos tabus preconceituosos do século e retratar o tema da SIDA – mais tarde reavivado por Mike Nichols na fabulosa mini-série da HBO Anjos na América. Foi o que fez Jonathan Demme, dois anos depois do muito aplaudido Silêncio dos Inocentes.
O filme de Demme deu a Tom Hanks o seu primeiro Óscar de melhor actor, num registo em que demonstrou definitivamente a sua versatilidade. Hanks interpreta Andrew Beckett, um jovem advogado promissor que é alegadamente despedido por incompetência, sabendo contudo que o verdadeiro motivo da dispensa é o facto de ser homossexual e de ter contraído SIDA. Beckett decide processar a firma e, depois de procurar os serviços de inúmeros advogados que rejeitam o seu caso, encontra em Joe Miller – um brilhante Denzel Washington – o seu defensor. Em suma, poder e dinheiro contra…pessoas.
O filme é pródigo em cenas tocantes, e mantém constante uma desconcertante toada de intervenção social para o problema do preconceito injustificado, perante a ignorância que a maior parte das vezes consegue vencer a bondade inata e o bom senso. Destaque para o momento em que Miller, após ter rejeitado a defesa a Beckett, o vê sentado solitariamente num recanto de biblioteca a preparar a sua própria defesa. Esta cena é nada menos do que o propósito do filme: fazer o espectador inflectir-se à realidade, fazê-lo retirar a cobarde máscara que ele próprio coloca de modo a não ver o que o rodeia. Filadélfia é um filme tocante e um alerta social intemporal que, pelo carácter vanguardista que teve e pela fortíssima mensagem que lhe está inerente, é indicado para todos sem excepção. E sem preconceitos.

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