Há uma pequena maravilha no incomensurável mundo musical ainda não devidamente laureada com os devidos méritos. Fleet Foxes, com álbum homónimo, parecem retorcer a canção tradicional e dela retirar a sua semente, o seu esqueleto. As canções dos Fleet Foxes não são estranhas a quem as ouve. Parece que estiveram sempre no ouvido, sem todavia nunca as termos ouvido.
Fleet Foxes é uma inversão de marcha no tempo até aos primórdios da pop que nunca existiram; é a criança grande sobredotada a quem já ninguém ensina nada. Fleet Foxes são exactamente isso: um fenómeno. A pureza requintada do álbum não se fica pelas aconchegantes melodias. Toda a temática envolvente é de um lirismo enternecedor que faz com que tudo nas canções sobressaia sem esforço, sem mácula. Pássaros, montanha, família, morte, vida. Nada de mais, mas mais não seria necessário.
Tiger Mountain Peasant Song foi a escolhida para encabeçar o estonteante desfile melódico que é Fleet Foxes, embora qualquer uma das outras pudesse receber esse epíteto. Das mais ritmadas como Ragged Wood, até às mais sombrias como Heard Them Stirring, Fleet Foxes é desconcertante para todos os sentidos do corpo. A voz de Robin Pecknold é um bálsamo para os ouvidos, atingindo o pico da grandeza na estoteante Your Protector.
Se a tudo isto se juntar o segundo disco da edição portuguesa, vemos que lá se incluem quase todas as entradas do EP lançado antes do álbum, e das quais se destacam English House e uma versão de Mykonos, um canção portentosa soft-rock para ouvir de sorriso estampado na cara.
O mar acústico que é todo o álbum, entrelaçado com harmónicos coros e uma guitarra do outro mundo (Dylan à espreita) faz de Fleet Foxes e da sua estreia um marco em absoluto e uma retumbante vitória, deixando qualquer desprevenido ouvinte ávido por mais.
1 comentário:
Grande dica, João. Não ouvia um disco pop tão saboroso desde o Out of the Shadow dos Rogue Wave, no Verão de 2004, em passeio pela costa alentejana.
A White Winter Hymnal é uma absoluta pérola.
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