domingo, 21 de setembro de 2008

Respeito e Reconhecimento. Só.


A posição russa sobre o conflito no Cáucaso parece, á primeira vista, bastante plausível. Num dos últimos números da Newsweek (acima disponibilizado), as acusações feitas a Mikheil Saakashvili por Sergey Lavrov de ofensas á população civil e á segurança das tropas de manutenção de paz russas lá estacionadas desde os acordos de 1992, são para ter em conta. Se verdadeiras – e em parte crê-se que sejam – as acusações do actual chefe da diplomacia russa constituem um claro ponto a favor do Kremlin, que por estes dias tem sido alvo da desconfiança e até de alguma hostilidade por parte da Europa e dos Estados Unidos.
Em contextos de conflito armado não há inocentes, mas pode haver uns menos inocentes do que outros. Desde há algum tempo que os sinais para uma guerra no Cáucaso se tinham vindo a avolumar. Desde expulsões de embaixadores até incursões provocativas em espaço aéreo do outro, passando por trocas de palavras nada condicentes com a postura diplomática que um chefe de Estado deve assumir, até embargos comerciais – um pouco de tudo aconteceu nas frágeis relações entre a Geórgia e o seu poderoso vizinho setentrional. Incentivado por Washington, que via em Saakashvili um actor político da maior relevância para a sua influência na região e o seu país como Estado-tampão ao poder russo, a Geórgia deu um passo em falso, e não mediu a proporção da resposta russa. Moscovo, por sua vez, não enjeitou uma oportunidade de ouro para fazer valer a sua renovada estratégia na cena internacional. O que não invalida que a Rússia tenha aproveitado a ocasião para reduzir a capacidade militar da Geórgia ao mínimo, amputando-a da possibilidade de projectar livremente o poder dentro das suas próprias fronteiras.
Para tal, a intervenção russa não pode nunca ter sido proporcional á ameaça georgiana (tal como defende Lavrov), sendo que no decurso da guerra excedeu largamente o estritamente necessário. Em política, ou em diplomacia, tal facto pouco conta na prática. Era assim dantes, é assim hoje. A justificação russa, consistentemente formulada, não oferece grande espaço de contra-argumentação à Europa ocidental, e muito menos aos Estados Unidos, sempre prontos a defender “o seu povo” por todos os meios necessários. A oratória russa respeitante à guerra na Geórgia praticamente não difere da utilizada pelos Estados Unidos nestas ocasiões. Demarcando-se da União Soviética, a Rússia amadureceu diplomaticamente. Parece saber lidar com o mundo ocidental, conseguindo tocar nas suas fragilidades, imitando os seus métodos em matéria de política externa, suscitando assim focos de aprovação em vários pontos do globo. Já não serve de muito comunicar com o Kremlin usando argumentação de pendor moralizante; o diálogo deve ser levado a cabo em plano de igualdade. Só dessa forma é possível garantir o respeito da Rússia, garantir desta mais cedências, bem como uma política menos ofensiva. Respeito internacional e reconhecimento como actor activo no plano externo é, garantidamente, tudo o que a Rússia pretende. Veremos que tipo de resposta dará o Ocidente a estas pretensões.

Sem comentários: